segunda-feira, 31 de julho de 2017

Mãos de outra, mulher ainda desconhecida...

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O esmalte era a novidade dos últimos tempos. Depois que a perdeu por aí, a fé. Junto com a vergonha das vaidades e vontades de mulher. Sem fé, tomou gosto. De si. Do corpo e das longas mãos onde achou não só graça, bom uso. Mãos para escorregar e percorrer aquele corpo. Seu homem. Tão familiar. Sem fé, ela fez das suas, mãos de outra. Mulher ainda desconhecida. Por tomar posse. Por manipular. Até fazer do prazer um líquido. Até fazê-lo arfar. Daquele jeito. Tão familiar também. Aquele homem que se confundia tanto com ela mesma. Após mais de duas décadas. Metade de todos os seus dias. Logo perderia as contas. Antes, perdera-se ainda mais nele. Um no outro. Muito. Os pensamentos, as vontades. As sensações e as muitas contrariedades. A mulher suspira de novo.



Eda Nagayama in Desgarrados, Cosac Naify, 2015, pág. 83

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