[...]
Observamos as abelhas, o homem e eu, durante mais ou menos uma hora, agachados perto das palmeiras.
O homem disse: "Eu gosto de observar as abelhas. Filho, você não gosta de observar as abelhas?"
Respondi: "Não tenho tempo".
Ele balançou a cabeça com ar triste. Falou: " Pois é isso o que eu faço, apenas observo. Posso ficar dias observando as formigas. Você já observou as formigas? E os escorpiões, e as centopeias, e as lacraias... você já observou?
Balancei a cabeça.
Perguntei: "Mas o que é que o senhor faz na vida?"
Ele se pôs de pé e respondeu: "Sou poeta".
Falei: "Um bom poeta?"
Ele respondeu: "O maior que existe no mundo".
"Qual o nome do senhor?"
"B.Wordsworth".
"B de Bill?"
"Black. Black Wordsworth. White Wordsworth era meu irmão. Nós compartilhamos o mesmo coração. Posso observar uma florzinha igual à glória da manhã e chorar".
Falei:"Por que o senhor chora?"
"Por quê, menino? Por quê? Você vai saber quando for grande. Você também é um poeta, sabia? E quando a gente é poeta pode chora por qualquer coisa e por tudo".
V.S. Naipaul in Miguel Street, B.Wordsworth, Cia das Letras, tradução de Rubem Figueiredo, págs. 58/59
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