domingo, 22 de outubro de 2017

Uma praça...

Uma tarde, saí para caminhar. Antes de voltar, quando escureceu, sentei-me no banco de uma praça. Só nesta cidade existem praças assim. Pequena e nova, parecia um acidente nesse bairro utilitário, nem próspero nem miserável. As árvores eram raquíticas, como se rejeitassem crescer, ofendidas ao serem plantadas em terreno tão pobre, num setor tão opaco e medíocre. Numa esquina, uma fonte de água gaseificada iluminava as figuras de três rapazes que conversavam em meio a uma poça. Dentro de uma piscina seca, que nunca acabou de ser construída, havia tijolos despedaçados, cascas de frutas, papéis. Casais apenas conversavam nos bancos, como se a feiura da praça não propiciasse maior intimidade.


 José Donoso in Uma Senhora, tradução de Léo Schlafman, Os Melhores Contos da América Latina, organização de Flávio Moreira da Costa, Agir Editora, pág.491

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