segunda-feira, 11 de março de 2019

O guardião



Ele sentiu o cheiro do desconhecido, o cheiro do inimigo atrás da porta, o cheiro da morte. Retesou-se todo, uma descarga elétrica cruzou todo o seu corpo, solicitando nervos, músculos, artérias. O que fazer? Evitar o embate com o desconhecido seria uma boa medida. Se fosse alto, grande, forte, bastava mostrar-se para dissuadir o outro. Infelizmente, sua família era de pequenos e, dentre eles, ele era o menor, quase anão. Melhor seria blefar.  Alertou ao outro, em alto e bom som, que ele estava ali, preparado, pronto para se defender, a todos e a casa. O desconhecido não tomou conhecimento do seu alerta e mexeu na porta com o intuito de abri-la. E agora? Só restava-lhe buscar dentro de si forças, surpreender o invasor. Sua família era de baixinhos mas valentões, não levavam desaforos para casa, muitos grandalhões já tinham se arrependido amargamente por enfrentarem alguém da família.

O desconhecido prossegue com a invasão, mas temeroso com quem irá enfrentar. A porta vai sendo aberta lentamente. Os dois adversários enfim se confrontam. Em segundos eles têm que decidir o que farão: avaliam-se, medem suas forças, confrontam músculos, alturas, portes, identificam intenções, traçam estratégias, planejam o ataque, a defesa ou a fuga. Segundos? Milissegundos. Decisões rápidas, instantâneas, o cérebro inundado por adrenalina é o computador mais veloz.
O invasor recua um passo, mas é tarde, pois é atacado. O guardião gostaria de pular na garganta do desconhecido, encerrar com um golpe só a peleja, mas a diferença de alturas o impede. Assim, foca na parte mais vulnerável do adversário e avança com todo o seu peso de quilo e meio no  corpo do inimigo, cravando com força seus dentinhos de poodle microtoy na pele áspera do calcanhar do outro. "Maldito cão dos infernos!", grita o pai das crianças.

José FRID

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