sexta-feira, 27 de julho de 2012





Fui ver no IMS - Instituto Moreira Salles a exposição "Luz, cedro e pedra", com fotos de Horacio Coppola das esculturas de Aleijadinho. Essas fotos foram feitas em 1945, por encomenda do SPHAN. São 81 fotos das esculturas, ora mostrando as esculturas por inteiro, ora detalhes de faces, mãos, pés, etc., ora registrando o conjunto da obra.


As fotos são em preto e branco, muito expressivas, algumas muito belas. Surge a questão:  a foto é boa pelo fotógrafo ou pelo objeto fotografado?  Na minha opinião, a maioria das fotos da exposição deve seu valor à obra do Aleijadinho. São fotos de registro das peças em corpo inteiro,  de grupo de esculturas ou de detalhes das peças, todas, aparentemente, ao alcance de um bom fotógrafo amador.

Uma das poucas fotos em que vejo a atuação relevante do fotógrafo é essa que ilustra este texto. A escultura foi transformada numa "pessoa". O olhar do fotógrafo revelou a alma do ser representado.

O curador da mostra comenta no site do IMS:

"Olhar uma escultura, entalhes, ornamentos, percorrer o espaço trabalhado a partir de suas curvas e detalhes, dando a volta em torno do que se vê. O olhar percorre junto ao corpo que anda, dá voltas, sobe, desce, desdobra-se para a observação. Mas e a fotografia de uma escultura, de um entalhe, de um ornamento? O que ela pode explorar? Que partes da escultura ela pode capturar? Será o todo? Ou apenas detalhes? O que é possível perceber na imagem? Pode um objeto ser personificado?"

Horacio Coppola, em entrevista a Marcos Zimmermann em 2010, quando indagado sobre o que considerava como uma boa fotografia, respondeu:
“Es la imagem completa, que contiene la realidade y su propio mundo.” 

E ainda na mesma entrevista, quando questionado sobre o que seria da fotografia no futuro, disse:


“No necessita mucha técnica porque está realizada por un aparato. Lo que importa es la cabeza y el ojo.” 

Nas fotos da exposição, no meu entendimento, prevaleceu o sentido de registro documental das peças, provavelmente por orientação do SPHAN, que financiou a empreitada, quase fotos turísticas.


Abstraindo-se a questão das fotos e atentando para o objeto fotografado, noto que Aleijadinho representa Cristo como um atleta -  pernas musculosas, braços fortes com veias saltadas, abdome definido, etc. - imagem que não conduz com a "realidade" dele.


Madalena foi retratada por Aleijadinho como uma camponesa portuguesa, modelo que ele teria ali à mão. Outro detalhe curioso das esculturas de Aleijadinho é a barba enrolada formando dois canudos na face, apontando para o observador. Moda nos tempos de Aleijadinho?


E como a gente sempre aprende na vida, fui apresentado à palavra "telamão", que lá estava traduzida para o inglês como "atlas". Telamão vem ser a estátua feita como coluna ou pilastra para sustentar entablamentos, brasões, cornijas,e tc. ou seja, sustentar a estrutura, como Atlas sustenta o mundo na mitologia.


O telamão em detalhe na foto era forte, condizente com sua função, mas barrigudo. Nada de tanquinho! 


José FRID

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