O outdoor, que acaba de ser proibido em São Paulo em nome da despoluição visual, é um exemplo clássico daquilo que para muita gente é pura poluição verbal: uma palavra importada do inglês que, ao passar pela alfândega, ganha um sentido diferente do original, algo como um, digamos, sotaque semântico brasileiro. Vira um exemplo de "Inglês made in Brasil", como diz o título de um livro de Ron Martinez dedicado ao fenômeno (editora Campus-Elsevier, 2003).
Na língua inglesa, aquele painel publicitário gigante se chama billboard. Outdoor é um adjetivo que quer dizer "que está ou acontece ao ar livre". Acabou substantivado entre nós devido a uma leitura toda própria da expressão outdoor advertising, "publicidade ao ar livre". O processo de tomar o qualificativo pela coisa em si é o mesmo que nos levou a criar o shopping como redução de shopping center, expressão na qual o substantivo é center.
Isso está errado? Do ponto de vista do inglês, é claro que está. Visto aqui de dentro, porém, o outdoor e o shopping são bons exemplos de como, na posição de importadora de vocábulos, a cultura nativa dá um jeito de resguardar seu orgulho por meio do "erro". É importadora, sim, mas não passiva. Infringe as leis da "matriz" – como recomendava Eça de Queirós ao dizer que devemos falar "patrioticamente mal" a língua dos outros – e lhe imprime sua própria lógica: na ordem que soa mais natural aos falantes de português, o substantivo vem antes do adjetivo, não vem? Daí o primeiro termo da expressão ser visto como dominante. Outdoor.
No mais, qualquer que seja o nome, vai ser lindo se essa lei paulistana vingar.
(A palavra é, 27 de Setembro
--> setembro de 2006)Obs: a lei pegou e os "outdoores" dançaram!!! Cidade Limpa!!
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