Renée, o quarto membro do círculo, sempre estava bem vestida e era, de algum modo, chique. Sua silhueta tinha personalidade, do penteado ondulado aos saltos dos sapatos, incrivelmente altos. Se Renée conseguisse conter seu sorriso desdentado, é possível que pudesse se passar por uma jeune gonzesse. Não conseguia. O sorriso era amplo e desastroso. Por ele a gente enxergava lá dentro da garganta dela. Quando sorria, a gente sentia como se a vida dela estivesse em perigo, como provavelmente estava. A pele dela não era particularmente desgastada. Mas Renée era velha, muitos anos mais velha que Lena; talvez tivesse uns vinte e cinco anos, o que para uma mulher da sua profissão significa ser muito velha. Sobre Renée, havia também certa fragilidade perigosa de insalubridade. E ainda assim Renée era firme, imensuravelmente firme. E precisa. Seus movimentos exatos eram os movimentos de um mecanismo. Até sua voz tinha um timbre puramente mecânico. Com essa voz ela só conseguia produzir duas coisas: guinchos e bramidos. Às vezes tentava rir discretamente e quase desmoronava. René, na realidade, estava morta. Ao olhar para ela pela primeira vez, percebi que deve haver algo elegante em relação à morte.
E.E.Cummings in A cela enorme, Editora UFPR, tradução de Luci Collin, pág.118