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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Contos da repressão


Contos da Repressão - Seleção de Fabio Lucas - Editora Record - 1987


A capa induz ao erro: seriam contos com estórias/histórias ligadas à repressão política. Ledo engano. São contos enfocando a violência em suas diversas formas, inclusive a política.


Os contos são desiguais na qualidade. Alguns envelheceram mal. Outros continuam potentes, deslumbrando os leitores atuais.


Recomendo começar a leitura do livro por ordem distinta daquela organizada pelo selecionador dos contos. A maioria das pessoas que começarem a ler o livro pelo primeiro conto - A casa de vidro, do Ivan Ângelo - é capaz de largá-lo logo, pois este conto é muito longo (24 páginas) e tedioso, O autor  desenvolve a tese de interiorização da violência, sendo muito repetitivo e didático. Hoje, o autor reduziria o texto a menos da metade, indo direto ao ponto.


Melhor começar pelos contos de Rubem Fonseca - Feliz Ano Novo e O Cobrador - que continuam com todo o vigor e frescor, apesar dos mais de 30 anos já passados. A violência e o comportamento social tanto dos meliantes quanto das vítimas de Feliz Ano Novo são atualíssimos, estão nas páginas dos jornais. O personagem do outro conto também anda pelas nossas calçadas cobrando suas dívidas.

O conto de Júlio  Borges Gomide - Um tiro numa melancia - é porrada pura, comportamento comum de menores infratores, principalmente viciados em crack e outras drogas. O outro conto dele - Outra vez a mesma história - também é pau puro, com um belo início. Os dois são curtos como dinamite. 

Voltando para o início do livro, o segundo conto - Intransitivo, de Mafra Carbonieri, é muito bom, mostra a violência urbana das pessoas ditas de bem, mancomunadas com as "otoridades", coisa muito comum ainda hoje. O outro conto do mesmo autor, agora membro da Academia Paulista de Letras, - Tônio Olivares - também é bom, retratando os últimos momentos de um assaltante cercado pela polícia.

Indo para o final do livro, encontramos o ótimo conto de Deonísio da Silva - Investigações sem nenhuma suspeita - sobre um método policial muito especial de investigação, pelo qual qualquer um pode ser culpado. Hoje, em tempos de internet, esse método pode ser mais perigoso. O outro conto do mesmo autor é mediano, deixe para o fim já que ele está no fim do livro.

Agora retornando para o meio do livro, temos o conto "Manobras de um soldado", de Flávio Moreira da Costa, deliciosa e hilariante história sobre um soldado de Petrópolis que deveria combater os militares revoltosos de 1964 que viriam de Minas Gerais. Lógico que dá tudo errado e a ditadura se instala no Brasil.

Podemos, ainda, destacar os contos "Medo", de Manoel Lobato, sobre os perigos de andar de táxi na madrugada, "Os camaradas", de Wander Pirolli, ambientado na época da ditadura, onde o personagem leva uma comida para uma pessoa presa e se enrosca na burocracia policial, "Cão", de Moacyr Scliar, sobre um cãozinho que dá conta de marginais.


Caso você tenha tempo e paciência, leia os outros contos. Depois me conte!



José FRID

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Um prazer imenso - Contos eróticos masculinos




Este livro se propõe a apresentar uma coletânea de contos eróticos masculinos, isto é, escritos por homens. O que seria um texto erótico? Como diferenciá-lo de um texto pornográfico?


O próprio livro explica a diferença: "O pornográfico, com facilidade, leva o leitor à excitação. Mas não atua com a sua imaginação. Ele é cru, apenas relato, descrição, o uso de palavras que nomeiam atos e ações facilmente identificáveis.


O erótico pode ser também levar à excitação, mas estará trabalhando com a imaginação do leitor, com o sonho, com o irreal, com o desconhecido. O conto erótico é um prazer para o leitor, o prazer da leitura e da descoberta de revelações num texto literariamente trabalhado. Em que o escritor também vasculha o profundamente humano."


Ou ainda: "O pornográfico caminha por modelos impostos pelo social e é caricato. Já o erótico é poético, é vital, porque remete o indivíduo à procura de sua identidade."


Na minha avaliação, apenas três dos treze contos do livro conseguiram chegar ao patamar do conto erótico, ou seja, ao "prazer da leitura e da descoberta de revelações num texto literariamente trabalhado."


"Quero mulher, peço deferimento", de Deonísio da Silva, aborda de forma bem humorada a tentativa de resolução de problemas sexuais pela via burocrática em uma escola pública, com suas repercussões jurídicas.

"Suíte ensolarada", de Duílio Gomes, trata de um tema difícil - incesto - mas com final surpreendente. Deixe-se levar pelo texto, sem preconceitos.

"Babá", de Julio Cesar Monteiro Martins, descreve o despertar da sexualidade de um aposentado, de forma divertida e sensual.

Os outros contos são bons, mas, no meu entendimento, não chegam a ser contos eróticos, apenas tratam de sexo, casais, etc.


Melhor se saiu a Joyce Cavalccante em seu livro de contos eróticos "O Discurso da mulher absurda".


 José FRID