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segunda-feira, 16 de maio de 2016

Circo


Escrever para lembrar é bom
Mas escrever para esquecer
Liberta elefantes do circo. 


Diego Moraes in Mallarmagens, revista de poesia e arte contemporânea

terça-feira, 12 de abril de 2016

Aquele bar da rodoviária tocando Wando


Nem quando tudo parecia perdido
meus olhos amanhecidos num bar da rodoviária
tocando Wando
nem quando tudo parecia perdido
a policia dando sinais de alerta
repassando minhas características na rádio patrulha
nem quando tudo parecia perdido
meu peito na chuva chiando pneumonia
nem quando tudo parecia perdido
deixei de pensar no teu sorriso
nem quando tudo parecia perdido
deixei de escrever poemas
em espelhos de motéis fuleiros
nem quando tudo parecia perdido
deixei de dizer para putas de rua
que meu coração
tem sangrado teu nome.


Diego Moraes in Mallarmagens, revista de poesia e arte contemporânea


terça-feira, 8 de março de 2016

Vida


Você está colorindo errado
o caderno da vida
mas a vida é sua
quem sou eu
para dizer que precisa
de mais amarelo nas margens
e azul nas curvas.


Diego Moraes in Mallarmagens, revista de poesia e arte contemporânea

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Sobretudo


Abandonei muitas coisas
Sobretudo os vícios
E os desejos de me tornar
Coisas que nunca seria
Abandonei muitas coisas
Sobretudo o remorso e a mágoa
Mas permanece
A fissura de solicitar
Sua amizade no Facebook
E marcar o nome dela
Num poema cheio de amores.

Diego Moraes in Mallarmagens, revista de poesia e arte contemporânea

sábado, 9 de janeiro de 2016

Sociologia do desespero


Um velho sociólogo diz na tevê
que o mundo está a beira de um colapso
que o mundo está próximo
da terceira guerra mundial
então estico os braços e pego a foto
na gaveta da gente dançando tango num bar
de Buenos Aires e guardo no peito
no bolso interno da jaqueta
o mundo está desabando
mas seu sorriso me esquenta
por dentro.

Diego Moraes in Mallarmagens, revista de poesia e arte contemporânea

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O amor talvez seja apenas um poema de Camões rasurado num livro da biblioteca


Você está sozinho numa sexta-feira fria de julho
A brisa lá fora arrasta folhas no asfalto e relâmpagos iluminam os móveis da casa
Um garrafão de cinco litros de vinho dom bosco com seis carreiras gordas de pó brilhando em cima da mesa
Você é o prático que guia esse navio que cruza o atlântico
O único culpado do naufrágio
Um Di Caprio sem Kate Winslet para abraçar e realizar sonhos na terra firme
Bolinhas verdes/online mandando mensagens inúteis que não confortam o tornado que devasta seu peito de urso na avalanche
Então você levanta da rede onde sempre descansa e bate dolorosas punhetas pensando naquela poeta portuguesa com pinta de atriz dos filmes do Manoel de Oliveira
Pega uma caneta vermelha e um maço de papéis almaço
Desenha um coração
Um coração grande que caiba toda sua esperança e rancor
Desenha uma linda flecha apontando para uma cidade imaginária
Você é um idiota que age como se todos os problemas do mundo pudessem ser consertados com um pincel atômico
Lisboa é muito longe
O amor talvez seja apenas um poema de Camões rasurado num livro da biblioteca.



Diego Moraes in Mallarmagens, revista de poesia e arte contemporânea



segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Acidente


O que os antigos amantes
não sabem é que todo
beijo de despedida
tem gosto de asfalto
sujo de acidente.


Diego Moraes in Mallarmagens, revista de poesia e arte contemporânea

domingo, 4 de janeiro de 2015

O amor na poesia de Diego Moraes

(...)

10


Já se passaram dez anos
Acabou a bateria do relógio que você me presenteou no natal que seu tio ficou bêbado de vinho dom bosco e disse na frente dos filhos e da esposa que era gay e viveria com um travesti búlgaro em Londres
Já se passaram dez anos
Os poemas que escrevi quando gozava nos teus peitos de atriz da nouvelle vague incorporada de pomba-gira amarelaram como sífilis na fruteira
Já se passaram dez anos
A dona Gerusa que te vendia maconha morreu de AIDS na penitenciária e o cachorro sem nome que adotamos morreu atropelado por um táxi
Já se passaram dez anos
Hebe morreu. Michael Jackson Morreu. Roberto Piva morreu. James Gandolfini morreu. Manoel de Barros morreu.
Já se passaram dez anos
Mas o cheiro da sua boceta ainda está impregnado no quarto, no guarda-roupa, na cozinha, na varanda, nas estrelas.


Diego Moraes

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