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terça-feira, 3 de maio de 2016

Sem palavras supérfluas....


Como dizer do puro azul? Sem palavras demais, todas necessárias assim para cada flor o seu número de pétalas. 


Nenhuma palavra supérflua, todas elas medidas e pesadas. Assim para cada pássaro o número certo de penas.


Dalton Trevisan in O beijo na nuca, Editora Record, págs. 9 e 47

domingo, 1 de maio de 2016

Estrelas polares da terra, viagem maravilhosa


À noite, estrelas polares da terra, eis que elas apontam nas esquinas, saltos altos e bolsa no ombro.

Se há viagem maravilhosa é nessa criatura nuazinha na colcha vermelha do bordel.

Dalton Trevisan in "Sinbad em Terra", do O beijo na Nuca, Editora Record, págs.101/102

sábado, 16 de abril de 2016

O amor....


Ai, como você dói.

Noite de lua me levanto, vou suspirar na janela: todos os pernilongos cantam o teu nome.

Eu me deito, apago a luz: os vaga-lumes acendem o teu rosto no escuro.


Dalton Trevisan in "A mão na pena", do O beijo na Nuca, Editora Record, pág.7

sábado, 9 de abril de 2016

Noite


Friorento, o sol se recolhe sobre os último telhados. O vento balouça de leve a samambaia na varanda. A casa toda em sossego. No quintal o cãozinho late aos pardais que se aninham entre as folhas.

A magnólia pende a cabeça com sono. Já não bole a cortina.

No silêncio da penumbra se ouve cada vez mais alto o coração delator do tempo: um relógio.

Diante da janela o passarão da noite farfalha as asas. O galo não gala a galinha. Duros objetos perdem os contornos agressivos. Há paz na cidade.

Em pé no balcão os operários bebem cálice de pinga. As caixeiras deixam as lojas com a bolsinha na mão. Eis a noite que se esgueira em surdina no fundo dos quintais. 

As mulheres são mais queridas a essa hora. O rosto iluminado pelo farol dos carros é promessa de delícias.

Os bondes sacolejam nos trilhos, em cada janela um rosto diferente. O mundo não é uma festa de prodígios: gnomos, baleias voadoras, unicórnios, basiliscos de fogo?

Escancaram as sete portas da noite. O ar povoado de sombras. Não mais o dia dos pequenos ódios nos olhos, das injúrias furiosas pelas costas. Os carros já não devoram ciclistas.

Enxugando os dedos no avental, as mães chamam os filhos que brincam na rua.

Se aquietam as vozes. Os pardais não pipiam nas árvores. Nem late o cãozinho.

A pomba da noite é mansa. Arrulha o amor na sopa quente sobre a mesa.


Dalton Trevisan in O beijo na Nuca, Editora Record, págs.106/107


(Pura poesia em prosa, não?)

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Amor....


A mulher me aborda: um pátio interno dos milagres. Propõe amor fácil e barato. Diz que é marquesa e abre a boca num riso de dois caninos.

Olho-a com tamanho horror que me amaldiçoa e aponta, impaciente, a garota ali na esquina. A palavra amor, uma laranja podre na boca da velha.

A mocinha tem os olhos baixos que, ao sinal da outra, ergue num clarão de lascívia feroz. De sandália, o vestidinho amarelo desbotado. Um ramo de flores murchas na mão esquerda.

Não me lembro se rosas ou camélias, que ela esqueceu sobre a cama.


Dalton Trevisan in "Capri", do O beijo na Nuca, Editora Record, págs.85/86

quarta-feira, 16 de março de 2016

Calça velha sobre a cidade...

E sobre a cidade uma calça velha de telhados tecidos de remendos. As telhas goivas pintalgadas de vermelho. O pontilhado das chaminés de chapeuzinho - um vero batalhão de êêê com acento circunflexo. 


Dalton Trevisan in "Soneto Veneziano", do O beijo na Nuca, Editora Record, pág.109

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Quem é o escritor?

O escritor é uma pessoa que não merece nenhuma confiança. Um amigo chega e me conta as maiores dores; eu escuto com atenção, mas estou é recolhendo material para mais um conto. E eu sei disso na hora. Surge então a má consciência. Sei que estou fazendo assim e não desejaria fazer, mas não há outro jeito. O escritor é um ser maldito.


Dalton Trevisan, 1968

domingo, 5 de maio de 2013

Mulher feia?


Nua e louca em teus braços, qual é a mulher feia?

Dalton Trevisan