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segunda-feira, 14 de março de 2016

Liberdade

A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Como a noite chegasse e ninguém vinha


Como a noite chegasse e ninguém vinha,
Tranquei a porta contra o mundo;
E a minha casa plácida e mesquinha
Ficou comigo num silêncio fundo…

Ébrio de só, falando a sós comigo,
Despreocupadamente passeando,
Fui verdadeiramente aquele amigo
Que em cada amigo já me vai faltando.

Mas bateram-me à porta de repente
E todo um poema se apagou num salto…
Era o vizinho, que o almoço assente
Para  amanhã me lembrou. Não, não falto.

E, de novo, trancados porta e ser,
Tentei restituir ao coração
O passeio, o entusiasmo e o desejo
Com que era ébrio do que os outros são.

Mas nada… Os móveis naturais da casa,
As paredes certeiras a me olhar,
Como alguém que deixa de olhar a brasa
E não viu brasa já ao ir olhar.



19 - 8 - 1934

Fernando Pessoa In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006

sábado, 18 de outubro de 2014

Em que parte de que caminho


Em que parte de que caminho
Vou eu, que não sei onde vou?
Na rua sei onde é que estou.
Na vida ignoro de onde vou vizinho.
Não sei onde há esquina ou beco
Na vida vã que vou seguindo.
Sei que vou indo, ou não vou indo.
Não sei se, indo ou não indo, acerto ou peco.
Ah, a desgraça nossa, que é
Na vida escura caminhar
Por ir, e nunca por andar!
Que fazer? Ir, estúpido e com fé…

2 - 10 - 1933 

Fernando Pessoa iPoesia 1931-1935 e não datada, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A vida inútil que vivi e vivo



A vida inútil que vivi e vivo
Levo-a nos braços como um peso morto,
Com um esforço desnaturado e esquivo,
Como um navio que não quer um porto,


E como um fardo que não era meu
Deponho-me ao onde-calha do caminho
Fiel ao princípio do que sou só eu
E de que o mais é só com o vizinho.


Mas de entre os ramos do arvoredo nasce
Um canto de ave que me não conhece.
Oiço, sorrio, em mim meu ser renasce,
E ergo de novo o fardo, ainda que pese.


9 - 9 - 1934

Fernando Pessoa In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Democracia

O eleitor não escolhe o que quer; escolhe entre isto e aquilo que lhe dão, o que é diferente.



Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Depressão

Estou hoje no fundo de uma depressão sem fundo. O absurdo da frase falará por mim. 


Fernando Pessoa

sábado, 9 de agosto de 2014

O fazer do artista


O artista não tem que se importar com o fim social da arte, ou, antes, com o papel da arte dentro da vida social. O artista tem só que fazer arte.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Amor

Nunca amamos alguém. Amamos, tão somente, a ideia que fazemos de alguém. Em suma, é a nós mesmos que amamos.

Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

As emoções do/para o artista

O artista não exprime as suas emoções. O seu mister não é esse. Exprime, das suas emoções, aquelas que são comuns aos outros homens. 

Fernando Pessoa

terça-feira, 23 de julho de 2013

Não sei


Não sei. Falta-me um sentido, um tacto 
Para a vida, para o amor, para a glória... 
Para que serve qualquer história, 
Ou qualquer fato?

Estou só, só como ninguém ainda esteve, 
Oco dentro de mim, sem depois nem antes. 
Parece que passam sem ver-me os instantes, 
Mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li. 
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir. 
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir 
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.

Não ser nada, ser uma figura de romance, 
Sem vida, sem morte material, uma ideia, 
Qualquer coisa que nada tornasse útil ou feia, 
Uma sombra num chão irreal, um sonho num transe.

Álvaro de Campos 


(heterônimo de Fernando Pessoa)

domingo, 25 de março de 2012

O mistério das coisas



O mistério das coisas, onde está ele? 
Onde está ele que não aparece 
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério? 
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore? 
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso? 
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas, 
Rio como um regato que soa fresco numa pedra. 
Porque o único sentido oculto das coisas 
É elas não terem sentido oculto nenhum, 
É mais estranho do que todas as estranhezas 
E do que os sonhos de todos os poetas 
E os pensamentos de todos os filósofos, 
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser 
E não haja nada que compreender. 
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: — 
As coisas não têm significação: têm existência. 
As coisas são o único sentido oculto das coisas.


Alberto Caeiro

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Vida insuficiente


Lembro de um pequeno trecho de Fernando Pessoa que sempre gosto de citar: ele diz que toda arte é a confissão de que a vida não basta. Acho que a literatura, enquanto expressão artística, não deixa de ser isso, uma espécie de busca por algo mais, esse reconhecimento de que nossa vida cotidiana não é suficiente. E não é mesmo. A gente precisa transitar, residir um pouco em lugares que são da ordem da imaginação, da fantasia, da poesia. E a literatura entra em nossa vida cotidiana - tanto na vida de quem a faz como na vida de quem a lê - dessa maneira. É a busca por uma espécie de espaço alternativo à vida, algo que nos ofereça outras visões, outras janelas, opções distintas daquilo que a gente experimenta em nossa vida prática. É uma espécie de folga da vida, mas não é uma folga fácil. A boa literatura faz a gente pensar muito, e nem sempre isso é uma coisa tranqüila e prazerosa, no sentido "férias". Nem sempre é um relaxamento. Muitas vezes é algo que nos mobiliza.


Adriana Lisboa no Paiol Literário, 29 de setembro de 2010, projeto promovido pelo jornal Rascunho em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba e o Sesi Paraná.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Poema em linha reta




Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.



E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.



Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...



Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,



Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?



Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



Fernando Pessoa (pelo heterônimo Álvaro de Campos)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Estou cansado da inteligência




Estou cansado da inteligência.
Pensar faz mal às emoções.
Uma grande reacção aparece.
Chora-se de repente, e todas as tias mortas fazem chá de novo
Na casa antiga da quinta velha.
Pára, meu coração!
Sossega, minha esperança fictícia!
Quem me dera nunca ter sido senão o menino que fui…
Meu sono bom porque tinha simplesmente sono e não ideias que esquecer!
Meu horizonte de quintal e praia!
Meu fim antes do princípio!


Estou cansado da inteligência.
Se ao menos com ela se apercebesse qualquer coisa!
Mas só percebo um cansaço no fundo, como baixam na taça
Aquelas coisas que o vinho tem e amodorram o vinho.


Álvaro de Campos

(heterônimo de Fernando Pessoa)

terça-feira, 1 de março de 2011

A bela e Pessoa no Museu da Língua Portuguesa


Não deixe de visitar o Museu da Língua Portuguesa!

Foto de José FRID

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sê inteiro (há 78 anos)



Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.



Fernando Pessoa, 14 de fevereiro de 1933

domingo, 3 de outubro de 2010

Há poetas que são artistas - Alberto Caeiro


E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...

Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem sei eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao solo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono


Alberto Caeiro (Lisboa, Portugal, 1889 - Lisboa, Portugal, 1916) - É um dos mais populares heterônimos de Fernando Pessoa

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Palco da Vida e Felicidade


Você pode ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,mas não se esqueça de que sua vida é a maior empresa do mundo. E você pode evitar que ela vá a falência. Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por você. Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas, relacionamentos sem desilusões.


Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas refletir sobre a tristeza. Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos. Não é apenas ter júbilo nos aplausos, mas encontrar alegria no anonimato. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de cada um de nós. É ter maturidade para falar "eu errei". É ter ousadia para dizer "me perdoe". É ter sensibilidade para expressar "eu preciso de você". É ter capacidade de dizer "eu te amo".

É ter humildade da receptividade. Desejo que a vida se torne um canteiro de oportunidades para você ser feliz…

E, quando você errar o caminho, recomece.

Pois assim você descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Usar as perdas para refinar a paciência. Usar as falhas para lapidar o prazer. Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.

 
Jamais desista de si mesmo.







"Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…" (Fernando Pessoa)
 
 

domingo, 4 de janeiro de 2009

Abandonar as velhas roupas usadas



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ..
.

É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...


Fernando Pessoa

domingo, 27 de janeiro de 2008

Palavras de Fernando Pessoa

O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade.

Tudo em nós está em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo é modificar o mundo para nós, isto é, é modificar o mundo, pois ele nunca será, para nós, senão o que é para nós.
Fernando Pessoa