(O Estado de São Paulo, 2/6/07)
A Prefeitura de São Paulo, pela primeira vez na gestão Gilberto Kassab (DEM), distribui cobertores a quem mora na rua e se nega a ir para albergues ou abrigos nas noites de frio. O assunto é polêmico, pois há quem defenda que doar alimentos e cobertas a quem vive nas ruas é incentivar esse modo de vida. É o que pensa o secretário da Assistência Social, Floriano Pesaro. "Essa não é uma política pública (doar os cobertores), mas uma emergência. Eu admito o risco de alguém morrer de frio na rua. Por isso, antecipamos a operação frio (que vai até outubro)."
A decisão foi tomada, segundo Pesaro, por Kassab, no início de maio, quando houve a primeira frente fria do outono. Em duas semanas, foram distribuídos 1,6 mil cobertores. "Sempre na segunda abordagem", diz o secretário. Doze mil cobertores foram comprados em licitação. "Cada cobertor tramado (mais grosso) custou cerca de R$ 12,50." Outras 12 mil peças devem ser adquiridas. Também serão usadas em albergues e em caso de urgência, como enchentes. Empresas vendem cobertores no atacado a partir de R$ 4,90 (prensados e finos). Já os tramados podem custar mais de R$ 12,50.
Pesaro diz que o recorde de acolhidos foi de 530 pessoas, na madrugada de quinta-feira, a mais fria da semana. A média é de 120 atendimentos.
"Vivemos um dilema social. Concordo que se doe cobertores, mas o governo precisa criar políticas para tirar as crianças e adolescentes das ruas", diz o promotor da Infância e Juventude Thales Cezar de Oliveira. "As pessoas não podem ser levadas à força. Então é preciso mantê-las vivas e protegidas do frio para encaminhá-las", afirma a coordenadora do Projeto Travessia, Lúcia Pinheiro.
Na madrugada de quinta-feira, a reportagem do Estado acompanhou o padre Giampietro Carrara e os missionários da Missão Belém. O padre convive com o povo de rua há 7 anos. De chinelos de dedos, não se queixa da temperatura. "Essa é a nossa escolha."
Os termômetros marcam 9 graus no centro da cidade, mas com a garoa e o vento, a sensação é de 7 graus. As mãos ficam dormentes. "Nosso objetivo é dar carinho, ouvir e ajudar a restauração (saída da rua)", diz Giampietro. Para ele, quem insiste em ficar na rua com o frio intenso tem problemas com o vício ou não acredita no auxílio.
Os mais velhos, há anos nas ruas, sabem que a baixa temperatura é inimiga e pode matar. O perigo é maior quando se dorme sozinho. Por isso, são raros os que não se juntam aos grupos. "Já vi gente beber, esquentar a cabeça e morrer de frio", conta Luiz Carlos Passos, o Jamaica, de 50 anos - 35 deles nas ruas.
A fogueira ainda queima sob o Viaduto do Chá quando os missionários voltam de uma ronda pelo centro, depois de falar com os sem-teto que dormiam na porta da Catedral da Sé. Eles vão passar a noite com um grupo, na maioria adolescentes. Eles parecem não ligar para o frio, talvez por estarem sob efeito da "brisa" depois de cheirar cola. Todos ali conhecem o padre Giampietro, recebido com festa pelos pequenos, como Kaike, de 9 anos. Anderson, de 21 anos, diz que nasceu na rua e, sozinho, continuou se virando. "Se frio incomoda? Para quem já passou tanto na vida, não."
Alguns entregam o saquinho de cola para o padre. "Isso mostra que têm vontade de sair da rua." É o que faz Graciele, de 15 anos. Por volta de 1h15, a reportagem acompanha a missionária Sandra Ramalhete, de 31, as voluntárias e a adolescente rumo à casa paroquial na "favelinha", no Tatuapé. "Pensei que não ia conseguir ir", diz Graciele, com ar de esperança nos olhos.
A decisão foi tomada, segundo Pesaro, por Kassab, no início de maio, quando houve a primeira frente fria do outono. Em duas semanas, foram distribuídos 1,6 mil cobertores. "Sempre na segunda abordagem", diz o secretário. Doze mil cobertores foram comprados em licitação. "Cada cobertor tramado (mais grosso) custou cerca de R$ 12,50." Outras 12 mil peças devem ser adquiridas. Também serão usadas em albergues e em caso de urgência, como enchentes. Empresas vendem cobertores no atacado a partir de R$ 4,90 (prensados e finos). Já os tramados podem custar mais de R$ 12,50.
Pesaro diz que o recorde de acolhidos foi de 530 pessoas, na madrugada de quinta-feira, a mais fria da semana. A média é de 120 atendimentos.
"Vivemos um dilema social. Concordo que se doe cobertores, mas o governo precisa criar políticas para tirar as crianças e adolescentes das ruas", diz o promotor da Infância e Juventude Thales Cezar de Oliveira. "As pessoas não podem ser levadas à força. Então é preciso mantê-las vivas e protegidas do frio para encaminhá-las", afirma a coordenadora do Projeto Travessia, Lúcia Pinheiro.
Na madrugada de quinta-feira, a reportagem do Estado acompanhou o padre Giampietro Carrara e os missionários da Missão Belém. O padre convive com o povo de rua há 7 anos. De chinelos de dedos, não se queixa da temperatura. "Essa é a nossa escolha."
Os termômetros marcam 9 graus no centro da cidade, mas com a garoa e o vento, a sensação é de 7 graus. As mãos ficam dormentes. "Nosso objetivo é dar carinho, ouvir e ajudar a restauração (saída da rua)", diz Giampietro. Para ele, quem insiste em ficar na rua com o frio intenso tem problemas com o vício ou não acredita no auxílio.
Os mais velhos, há anos nas ruas, sabem que a baixa temperatura é inimiga e pode matar. O perigo é maior quando se dorme sozinho. Por isso, são raros os que não se juntam aos grupos. "Já vi gente beber, esquentar a cabeça e morrer de frio", conta Luiz Carlos Passos, o Jamaica, de 50 anos - 35 deles nas ruas.
A fogueira ainda queima sob o Viaduto do Chá quando os missionários voltam de uma ronda pelo centro, depois de falar com os sem-teto que dormiam na porta da Catedral da Sé. Eles vão passar a noite com um grupo, na maioria adolescentes. Eles parecem não ligar para o frio, talvez por estarem sob efeito da "brisa" depois de cheirar cola. Todos ali conhecem o padre Giampietro, recebido com festa pelos pequenos, como Kaike, de 9 anos. Anderson, de 21 anos, diz que nasceu na rua e, sozinho, continuou se virando. "Se frio incomoda? Para quem já passou tanto na vida, não."
Alguns entregam o saquinho de cola para o padre. "Isso mostra que têm vontade de sair da rua." É o que faz Graciele, de 15 anos. Por volta de 1h15, a reportagem acompanha a missionária Sandra Ramalhete, de 31, as voluntárias e a adolescente rumo à casa paroquial na "favelinha", no Tatuapé. "Pensei que não ia conseguir ir", diz Graciele, com ar de esperança nos olhos.
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