sábado, 14 de julho de 2007

A renúncia de Lulla

(Arnaldo Bloch)

Ao renunciar a abrir o Pan e cassar a própria voz por causa das vaias que se avolumaram quando o presidente do comitê passou-lhe a palavra, Lula deu a maior amarelada da História da República. Parece que, depois das primeiras vaias no telão, a assessoria do presidente pediu para mudar o protocolo e o Nuzman fazer a abertura. Aí o gringo do comitê panamericano, na sua fala, sem saber disso, chamou o presidente à responsabilidade e todo mundo viu Lula, diante das câmaras, microfones a postos, preparar-se, e depois a câmara, sem explicação, voltando ao centro do gramado, junto com as vaias, para o Nuzman fazer as vezes do chefe da Nação, o que já estaria previsto. Que vergonha. Com vaia ou sem vaia, merecida ou não, tinha que falar, enfrentar a possível falta de esportividade cívica da galera (ainda que o direito à vaia seja sagrado talvez não fosse a hora, ainda mais que já o tinham vaiado suficientemente quando das aparições no telão). Mas Lula apostou mal: como era a abertura dos jogos que estava em jogo, se começasse a falar o povo ia acabar calando e consentindo, senão os jogos não abriam. Calando ele próprio, Lula deixou-se abafar pela pressão. Isso que o governo federal investiu quase 2 bi e era o momento de o presidente exaltar isso e a série de iniciativas com que, enfim, vem procurando contemplar a cidade. No mais, e aquela popularidade toda? Cadê? Será que só tinha classe média-alta, elite zona-sul no Mário Filho? Orlando Silva disse que as vaias foram orquestradas. Mas, enfim, que estadista é esse que é vaiado na eterna capital, e no Maraca? Não é mole não: ali onde só juiz safado, técnico, perna-de-pau e minuto de silêncio levam espinafração, além, é claro, da delegação americana. Será aquele estadista que sempre menosprezou o Rio, que nunca entendeu o Rio, que nunca veio ao Rio com espírito positivo, nunca nada além de constrangimento protocolar? Será aquele que levou escola de samba paulista pra Líbia? Numa boa, depois de ser vaiado no Maraca, onde até demônios encourados como o Médici foram aplaudidos pela boiada incauta, eu tirava uma licença e voltava pra São Bernardo, mode fazer análise pra descobrir onde foi que errei. Presidente de mal com o Rio não fecha o ciclo cívico.

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