Em tempo de radicalização e de guerra de opiniões, quando cada um quer provar que tem razão, mesmo à custa da verdade, com a clareza e sinceridade que caracterizam nosso grande poeta, Ferreira Gullar foi ao fundo da questão: "o importante não é ter razão, é ser feliz". E abriu o coração inteligente: quando discute com a namorada e acabam brigando, ele sempre tem razão, mas ela vai embora furiosa e passa três dias sem ligar. Ele fica sozinho em casa, cheio de razão, mas numa tristeza infinita, infelicíssimo.
Há muito tempo me esforço para desistir da idéia de convencer alguém de qualquer coisa. Com minha intuição, experiência e convicções, ofereço minhas opiniões com sinceridade, apresento meus argumentos, me empenho em ser claro e objetivo. Se forem aceitas, ótimo, se não, ótimo também.
Gosto de aprender, não tenho problemas para admitir meus erros e equívocos, não me sinto inferior por não ter razão. Nem culpado por me sentir feliz.
Gullar, comunista histórico, sabe que nenhum sistema político, econômico ou filosófico gerado pela razão humana é capaz de fazer o indivíduo feliz, que é o que interessa. Cada pessoa é um mundo complexo, insondável e imprevisível, e a sensação de felicidade ou o seu avesso atingem ricos e pobres, burros e sábios, religiosos e ateus, desde que o mundo é mundo. Não bastam diversão e arte, além de comida, para fazer o homem e a mulher felizes. O buraco é mais embaixo e muito mais fundo.
Passeando pelos blogs, especialmente os políticos, e lendo as torrentes de ódio, ressentimento e vitupérios que as falanges digitais de militantes trocam o dia inteiro (essa gente não trabalha?), não se pode deixar de notar que, quanto mais razão eles acham que têm, mais infelizes se sentem.
NELSON MOTTA
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