quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Versos alheios

105ª ilha (coisa mais última da vida)


contei pra menina ao lado: tenho subterrâneos por ti
no que ela respondeu, interrogando: o que se faz por subterrâneos?
coisas profundas,
antes confusas,
coisas de instinto: tezão, medo, hipérboles ...
subterrâneos enfim, quase infernos


o negro de seus cabelos era meu céu (sem lirismos juro)
entendi ter um particular por seu lábio superior, e outro, ainda mais grave, pelo seu cangote


palavra essa, cangote, que já me valeu o dia


consta que a menina ao lado era minha já há um ano, uns meses e outros dias


e nesse dia, não que ela se alarmou, mas creio que tenha entendido,
flutuamos, então
acho que fomos ao cinema trocar pipocas


há dias que só falamos dos abismos
e nas noites tenho sonhos arrozeados
(uma cor de crepúsculo, algo entre o roxo e o rosa. mas também uma textura: como quando, sozinhos no mercado, enfiamos a mão no saco de arroz como se aquilo fosse a coisa mais última da vida)


acordo ao seu lado e sonho
ainda

3 comentários:

Anônimo disse...

Belíssima! Estava esperando pela poesia. Afinal, hoje é segunda-feira!
Gracias!

Fátima

Anônimo disse...

Valeu! Boa semana!

André

Anônimo disse...

Muito bom

Margarida