Anos atrás, quando assistia um filme (Operação França ou Cristiane F.) ou lia algo à respeito da heroína, ficava um tanto assustado. Todos sabemos o quanto essa droga é devastadora. Com poucas doses, um sujeito já fica completamente dependente dela. E por mais uma dose, é capaz de qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo! Tipo vender a mãe... esquartejada. Exagero? Nem um pouco. Mas como ela sempre foi mais consumida na Europa e EUA, esta realidade estava um tanto distante de nós. Mas, aí, os malas, sempre dispostos à abrir novos nichos de consumo de drogas, inventaram o crack. E foi e, está sendo, pior que as sete pragas do Egito. Em poucos anos de consumo, no Brasil, já temos legiões de zumbis-mirins vagando pelas ruas, com seus dedos necrosados e os cérebros completamente destruídos antes de completarem 10 anos de idade. Coisa do tipo meninas de 11, 12 anos pagando um boquete para estranhos nas ruas (coisas que só víamos em filmes com locação no Bronx ou no Harlen) em troca de mais uma pedra, já faz parte do cotidiano de São Paulo, há muitos anos. Já temos, inclusive, a nossa Amsterdã: a cracolândia. Esta semana, liguei para um amigo pra falar de um outro assunto com ele. O diálogo foi este:
- Alô, quem é?!
- Sou eu, o Jarbas.
- (SURPRESO) Jarbas?! Quem falou pra você me ligar?!
- Ninguém. Por quê?
- Porque eu estou com o meu filho aqui no carro. Ele tá querendo se jogar do carro! Fugiu da clinica e quer fumar crack de qualquer jeito. Eu tô desesperado! Não sei o que faço! Foi por deus você me ligou.
O filho desse meu amigo tem 28 anos e já conta com mais de trinta internações por causa do crack. Ele gastou todas as suas economias e se endividou pra tentar ajudar o filho. Conversei bastante e, durante a conversa, podia ouvir os gritos do seu filho, desesperado pela abstinência da droga. Ele tem uns cinqüenta anos, já bem grisalho, um homem formal, quase sisudo. Ele não agüenta e começa a chorar ao telefone. Mal consegue pronunciar as palavras. Sinto o seu desespero, sua tristeza e solidão. Num determinado momento ele diz, com uma voz que parece ter saído das profundezas do inferno:
- Jarbas, tem que ter uma saída! Tem que ter!
Eu, do outro lado tentava, a todo custo, achar alguma coisa pra falar pra esse meu amigo. Algo que aliviasse a sua dor, nem que fosse só por algumas horas, minutos. Mas não achei. Porque não há. É o tipo de dor intransferível. Tatuada. Porque em casos como este, muitas vezes, não há saída. E nunca haverá.
Jarbas Capusso Filho - http://uivoslatidosefuria.zip.net/
Nenhum comentário:
Postar um comentário