quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Curiosidade mórbida



O que leva uma pessoa a fazer o que fiz?

Eu estava fazendo a arrumação semi-anual dos meus arquivos diversos, jogando muito papel fora para a alegria da minha mulher, quando encontrei os recibos do despacho de uma encomenda para Brasília. Datados de 11 de março de 2007!

(Acho que ela tem um pouquinho de razão quando afirma que sou viciado em papel velho.)

Dois papéis. Um menor, preenchido por mim, com os dados da remessa. Um formulário grande, com o logotipo da TAM, preenchido por impressora matricial, com os dados do primeiro documento acrescidos dos referentes ao vôo (hoje sem assento), custos, forma de pagamento, etc., ilustrado por uma enorme carimbada preta comprovando o pagamento por cartão de crédito.
Acabei lembrando do despacho, num domingo ensolarado, meio da tarde, no prédio da TAM ao lado de Congonhas. O estacionamento nos fundos do prédio estava cheio para o dia e horário. Entretanto, lá dentro, salão vazio, atendentes atenciosos, um jogo passando na televisão colocada para amansar a fila de espera (no dia, um domingo, não tinha fila), caixas de todos os tamanhos empilhadas para todo o lado. Não consegui lembrar dos rostos das pessoas que tinham me atendido. Só lembrei que a atendente era uma mulher e o caixa homem.

Todo o despacho teve como fundo musical o barulho dos aviões saindo e pousando em Congonhas, afinal domingo é o dia das viagens de pacote para o Nordeste. Os aviões vem e vão o dia inteiro. (Numa viagem que fiz de volta de Porto Seguro, ao aterrizar em Congonhas, dia chuvoso, o piloto, que já tinha viajado entre as duas cidades várias vezes naquele dia, estava tão perdido que desejou boa estada em Porto Seguro: os passageiros, queimados pela semana de sol, urraram pedindo para voltar à cidade baiana).

Por que teria guardado por tanto tempo tais documentos? Mistério. Enquanto matutava sobre o assunto, lembrei que o edifício não existia mais, pois foi o local da queda do Airbus da TAM. De repente, caiu a ficha: e se o pessoal que estava lá no dia do despacho morreu no acidente?? Eles devem trabalhar em regime de revezamento, poderiam estar no dia da queda do avião. Tremi, emocionado.

Curioso, vasculhei os documentos e achei no formulário o nome completo da mulher que tinha me atendido: Renata ......... O que será que tinha acontecido com ela?

Entrei no Google e procurei – curiosidade mórbida – a lista dos mortos no acidente. Dia 17 de julho de 2007. Vôo TAM 3054. 199 mortos!! Havia uma Renata na lista, mas, felizmente não era a que me atendeu.

O que eu pretendia com tal pesquisa? O que faria ou mudaria na minha vida se ela estivesse na lista? Mera curiosidade mórbida? Igual a daqueles que diminuem a velocidade para ver um acidente na estrada?

Não tenho respostas ......

José FRID

2 comentários:

Anônimo disse...

Apesar da morbidez, gostei.

Fiquei curiosa também para saber se era a mesma Renata.

Abraço

N.

Anônimo disse...

Apesar da morbidez, gostei.

Fiquei curiosa também para saber se era a mesma Renata.

Abraço.

N.