Marolinha
E a marolinha de Lula era mesmo um tsunami, afinal. É fácil fazer piada com um erro de avaliação tão caudaloso, mas a própria eloqüência das imagens favorecidas pelo presidente da República torna isso inevitável. Opor o duplo diminutivo de uma pequena marola, isto é, ondinha ou ondulação natural do mar, a tsunami, nome japonês da vaga gigantesca provocada por tremores de terra ou erupções vulcânicas, é um exercício retórico tão expressivo quanto arriscado. E Lula perdeu.
A origem de marola, regionalismo brasileiro que o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa nem registra, não parece sólida. A maioria dos nossos dicionários aposta numa formação nativa do termo, que seria a junção de mar com o sufixo diminutivo "ola" - o mesmo usado em camisola e bandeirola. Mas não parece razoável descartar a possibilidade de o vocábulo ter vindo do espanhol marola, com uma alteração semântica no meio do caminho. Na língua de Cervantes, seu sentido é o oposto: onda grande.
Tsunami é outra história. Sabe-se que a palavra veio do japonês tsu (porto) + nami (onda) e que começou a ser usada por aqui já em fins do século 19. Sua popularidade, porém, só explodiu com o cataclismo que arrasou a Indonésia em dezembro de 2004: a imprensa brasileira em peso manifestou sua preferência pela cor exótica de tsunami sobre a velha palavra vernacular maremoto, que existe em nosso idioma desde o século 16.
Houve alguma discussão na época sobre a conveniência dessa substituição. É verdade que tsunami nomeia uma onda gigante em si, individualizada, enquanto maremoto se refere de forma mais ampla ao fenômeno de extraordinária ondulação do mar provocado por abalos sísmicos. No entanto, também se pode argumentar que a adoção maciça da palavra japonesa trai a memória coletiva lusoparlante, traumatizada pelo maremoto que desvastou Lisboa em 1755.
Publicado na "Revista da Semana".
Sérgio Rodrigues em Todoprosa
Conclusão:
O Lulla não errou, nós é que não sabemos espanhol!!
Ou não?
José FRID
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