Numa época um pouco distante, fins dos anos 70, início dos anos 80, todo mundo no Brasil leu ou lia "Memórias de Adriano", da Marguerite Yourcenar. Um enorme sucesso. Tanto que "Carlos Drumond de Andrade havia ficado uma semana preso em casa, com medo de alguém apontá-lo, na rua, chamando-o de 'pobre velho que ainda não leu Memórias de Adriano'".
Uma das mais fascinantes obras do século XX, este livro traz como personagem principal Adriano, o grande imperador romano. Mas não se trata apenas de uma biografia romanceada. A "grande dama da literatura francesa" faz uma obra de ficção, em que a ambientação física, política, social, cultural e psicológica obedece a um rigoroso processo de reconstituição histórica.
No livro, pouco antes de morrer, o imperador Adriano decide escrever uma longa carta-testamento ao jovem Marco Aurélio, o futuro imperador-filósofo.
Adriano é retratado como o governante ideal: cultor do classicismo grego, protetor das artes e político preocupado com vida dos escravos.
Na carta Adriano passa em revista os principais episódios de sua extraordinária existência: a relação de afeto com a mulher de Trajano, Plotina; as campanhas militares em diversas regiões da Europa; as viagens à Ásia Menor; a paixão pela caça; as discussões filosóficas com os principais pensadores do seu tempo; as relações com Trajano, seu antecessor; e o casamento com Sabina.
No entanto, não são as façanhas públicas e heróicas que constituem o centro vital do relato do velho imperador, mas seu amor pelo belo jovem grego Antínoo, que se matara no auge do esplendor físico.
A partir dessa perda, Adriano se interroga sobre o destino, a precariedade da vida e a inevitabilidade da morte, que não poupa senhores nem escravos. "Esforcemo-nos por entrar na morte com os olhos abertos", escreve o imperador em seus últimos dias, seguindo os preceitos da filosofia estóica que sempre o nortearam.
Adriano foi imperador de Roma entre os anos 117 e 138 de nossa era cristã. Seu governo é considerado um dos mais pacíficos da história romana, baseado numa política de defesa e não de conquistas. Apesar disso, foi durante seu reinado que ocorreu a sangrenta guerra da Judéia, quando os judeus se opuseram à reconstrução de Jerusalém, destruída por Tito no ano 70. Adriano reconstruiu a cidade nos moldes gregos e chegou a mudar o nome de Jerusalém para Aelia Adriana. Para os judeus, esse episódio ficou conhecido como a guerra do extermínio.
Poucas vezes uma experiência histórica específica - a biografia de um homem ilustre e o prenúncio da decadência de Roma - foi transformada pela ficção de modo tão vivo quanto nestas Memórias de Adriano.
Se não leu, leia. Se já leu, releia!! Disponível nas livrarias e nos sebos.
José FRID
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