1 – Não existe nenhum grande sucesso a que não correspondam esforços reais. Mas seria um erro admitir que esses esforços sejam sua base. Os esforços são sua conseqüência. Conseqüência da elevada auto-estima e disposição para o trabalho daquele que se vê reconhecido. Por conseguinte, uma grande exigência, uma hábil réplica e uma feliz transação são os verdadeiros esforços subjacentes aos verdadeiros sucessos.
2 – Satisfação dada por meio da remuneração paralisa o sucesso, satisfação dada por meio do esforço o aumenta. Salário e esforço estão nos pratos de uma balança: todo o peso do amor-próprio deve cair no prato do esforço, assim o prato do pagamento vai sempre subir rapidamente.
3 – Só podem ter sucesso por muito tempo aqueles que em sua conduta são guiados por motivos transparentes. A massa destroça qualquer sucesso tão logo este lhe pareça opaco, sem valor instrutivo ou exemplar. É evidente que esse sucesso não precisa ser transparente no sentido intelectual. Qualquer teocracia demonstra isso. Ele apenas deve se ajustar a uma idéia, ou melhor, a uma imagem, logo, ao padre o confessionário, ao general a condecoração, ao financista o palácio. Quem não paga seu tributo ao tesouro de símbolos da massa deve fracassar.
4 – Quanto mais claro, inequívoco, evidente, maior o afeto do público; maior é o raio de ação de uma manifestação intelectual, tanto mais público aflui para ela. Desperta-se "interesse" por um autor, isso quer dizer: começa-se a procurar sua fórmula e a expressão mais primitiva desta.
5 – A referência à posteridade foi uma maneira de exercer pressão no sentido de consolidar a posição do escritor na sociedade. Todas as épocas anteriores são unânimes na convicção de que os contemporâneos guardam as chaves que abrem as portas da fama póstuma. E hoje isso é tanto mais válido – por ser menor a vontade e o tempo que cada geração emergente pode ter para processos de revisão.
6 – Fama, ou melhor, sucesso, tornou-se obrigatório e já não significa hoje 'superação,'como antes. Numa época em que qualquer escrivinhação miserável se divulga em milhares de exemplares, resulta simplesmente um estado de agregação da literatura.
7 – Condição da vitória: alegria pelo sucesso exterior como tal, alegria pura, desinteressada, que melhor se manifesta no fato de que alguém tenha prazer no sucesso - mesmo se for de um outro e precisamente se for imerecido. Um senso de justiça farisaico é um dos maiores obstáculos para o progresso.
8 – Muita coisa é inata, mas muito é feito pelo treinamento. Ninguém será bem-sucedido se se poupar, se só mergulhar fundo nos temas maiores e se não estiver em condições de se empenhar até o extremo por causas insignificantes.
9 – Em toda prova, as maiores chances não estão com o candidato mais bem preparado, mas com o improvisador. Pela mesma razão, quase sempre são as questões secundárias, as coisas de menor importância que decidem. O inquiridor que temos à nossa frente exige, antes de tudo, que o enganemos acerca de sua função. Se conseguimos isso, então ele nos fica agradecido e pronto a perdoar muita coisa.
10 – Um gênio qualquer mora dentro de todo bem-sucedido. Também o sucesso é um encontro marcado: encontra-se no lugar certo, na hora certa. Isso significa: compreender a língua na qual a sorte faz seu acordo conosco. Como é que alguém que nunca ouviu essa língua pode julgar a genialidade do coroado de êxito? Para ele tudo é por conta do acaso. Não lhe ocorre que aquilo que assim denomina é, na gramática da sorte, o mesmo que, na nossa, o verbo irregular, ou seja, o rastro não apagado duma força primitiva.
11 – A estrutura de todo sucesso é, no fundo, a estrutura do acaso.
12 – Pode-se blefar, mas nunca se deve sentir como um blefador. É fundamental ter consigo aquela boa-fé que nunca falta aos mais astutos impostores, mas quase sempre aos pobres-diabos.
13 – O fato de que o segredo do sucesso não mora no espírito é revelado pela expressão 'presença de espírito'. Assim, não é o Quê nem o Como, mas só o Onde do espírito que determina. Que ele esteja presente no momento e no espaço, penetrando o tom de voz, o sorriso, o olhar, o gesto. Pois, presença de espírito só o corpo é que cria!
Escrito por Walter Benjamin na década de trinta. in "O caminho do sucesso em treze teses" in Rua de Mão Única – Obras Escolhidas II. São Paulo, Brasiliense, 1987.
(Extraído do Blog da Márcia Denser) no Congresso em Foco)
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