O que leva um homem a perder a sua honra e envergonhar o povo de todo um estado, estado que foi às armas em 1932 para não se submeter a um ditador?
O que leva um homem a revogar uma decisão irrevogável? Se retratar de uma decisão irretratável?
Não é o caso de se desonrar para manter o mandato de senador, mas perder a honra para manter o título de líder do partido no Senado. A diferença entre ser líder do partido e ser um senador comum são apenas os cargos à sua disposição e os holofotes das tevês. Seriam estes os vil motivos da desonra?
O que lula ofereceu? Cargos no governo? "Boquinhas públicas" para amigos e correligionários? Interesses privados inconfessáveis? O que lula ameaçou? Cargos no governo? "Boquinhas públicas" para amigos e correligionários? Interesses privados inconfessáveis? O que o senador temeu perder?
O senador Flávio Arns, do PT do Paraná, liderado (?) pelo indigitado Mercadante, teve coragem de dizer, bem alto, que:
- "O PT jogou a ética no lixo e vai ter de achar outro caminho. Deu as costas ao povo, à sociedade e às bandeiras tão caras a tantas pessoas. Tenho vergonha de estar no PT".
O artigo abaixo mostra até onde chega a degradação de um homem público. Não deixe de lê-lo!
Em 2010 fora com o Mercadante!
Ao rei tudo, até a honra
Josué Maranhão - 25/08/2009
BOSTON – "Ao rei tudo, menos a honra!"
A frase de abertura, entre aspas, de autoria de Calderon de La Barca, teatrólogo espanhol, é uma paráfrase de outra maior, um pensamento atribuído a Maquiavel.
No Brasil, a sentença entrou para a história, em episódio ocorrido há 41 anos, em 11 de dezembro de 1968, em uma das situações mais crítica para o Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados discutia o pedido de licença, formulado pelos generais na ditadura de então, para processar o deputado Márcio Moreira Alves, por conta de um discurso considerado ofensivo às forças armadas.
A votação foi precedida de um discurso do deputado norte-riograndense Djalma Marinho, jurista de renome e presidente, há anos, da Comissão de Constituição e Justiça. Egresso da UDN, partido que respaldou o Golpe Militar de 1º. de abril de 1964, integrava a ARENA, o partido dos generais.
Em seu discurso, Djalma (de quem tive a honra de ser amigo, embora politicamente estivesse no lado oposto) ressaltou os seus vínculos com o regime dominante, falou dos riscos que recaiam sobre ele, pessoalmente, bem como sobre o Congresso Nacional. Destacou, no entanto, que a sua formação jurídica e democrática o impedia de aceitar o pedido dos militares. Concluiu com a frase que está na abertura deste escrito.
O Congresso negou a licença pedida pelos generais. O gesto foi o pretexto para a adoção do Ato Institucional No. 5, de famigerada lembrança na história do Brasil.
A ditadura endureceu, a perseguição generalizou-se, foi instituída a tortura, como coisa corriqueira.
O Congresso foi fechado. Resultado: Djalma, que não tinha recursos, precisou procurar trabalho como advogado, profissão que não exercia há décadas. Sobreviveu com sua família. Não maculou a sua história e continuou um homem honrado.
Os tristes episódios envolvendo o senador Aloízio Mercante, na semana passada, provocaram um estalo da minha memória. Daí a invocação à frase de abertura deste escrito.
Depois de ser desautorizado pelo presidente Lula, em várias oportunidades, desde quando iniciada a crise no Senado, por conta das "diabruras" de Zé Sarney, finalmente todos entenderam que Mercadante resolvera levantar a cabeça e mostrar o seu brio.
Enfrentou o presidente Lula e a presidência do seu partido, o PT, quando se recusou a substituir os senadores petistas no Comitê de Ética, onde teriam votos decisivos na votação dos recursos contra o arquivamento das representações contra Sarney. Ademais, não aceitou ler a nota oficial do partido justificando o apoio ao senador amapaense e "coronel" maranhense.
Na sequência, espontaneamente, anunciou a sua renúncia, em caráter irrevogável e irretratável, ao cargo de Líder do PT no Senado. Propagou a notícia aos quatro ventos, noticiou-a em blog na internet e até divulgou o horário em que faria um discurso no Senado, formalizando o ato.
Bastou um recado do presidente Lula, para Mercadante começar a amunhecar.
O triste final foi o insosso discurso no qual renunciou à renúncia, retratou o que era irretratável e revogou o que era irrevogável, segundo ele próprio afirmara.
O que teria provocado o vergonhoso recuo? Das duas, três! Recebeu um puxão de orelhas, lhe foi dada alguma coisa em troca, ou simplesmente acovardou-se?
Qualquer das três alternativas pode ser correta. Ou as três.
O que se viu foi o senador assomar à tribuna, com "o rabo entre as pernas", como dizem lá no Nordeste, cabisbaixo, pálido, quase macerado. Tentava se esconder por trás do bigode, que usa à moda dos canastrões de filmes mexicanos, e que ele imagina lhe imprime a imagem de homem sério e bravo. Não o é, a cena mostrou!
Tentando justificar o que seria injustificável, estivéssemos tratando com alguém com hombridade a preservar, na realidade o senador petista-paulista encenou uma paródia, mais próxima de uma chanchada do que de um épico consagrador.
O espetáculo circense demonstrou que não há credibilidade no que ele diz, o que, aliás, é o mais comum entre os políticos.
Há, apenas, uma ressalva. Nem todos são nivelados por baixo, de forma rasteira. Sobrevive o exemplo do senador Flávio Arns, do Paraná que, como exemplo para Mercadante e muitos outros, teve coragem de dizer, bem alto, que:
- "O PT jogou a ética no lixo e vai ter de achar outro caminho. Deu as costas ao povo, à sociedade e às bandeiras tão caras a tantas pessoas. Tenho vergonha de estar no PT".
Lamentavelmente, no caso do senador Mercadante, aplica-se o aforismo da abertura deste escrito, de forma deturpada:
- Ao rei tudo, até a honra!
2 comentários:
É, para mim o Mercadante ainda era um dos poucos "homens de bem" do PT. Mas já vi que não sobra ninguém mesmo .....
G.
Ele também me decepcionou. Já no início do governo Lulla ele foi afastado da área econômica, nas mãos do Palloci (!!!) e do Meireles (!!!) e nem se manifestou.
O pior de tudo é que ele estava com a razão quando disse que não concordava com a defesa do Sarney. A sua renúncia ao cargo de líder era legítima. O que acabou com ele foi a renúncia à renúncia!!
O que o lulla ofereceu para ele mudar de ideia? Ou o que Lulla ameaçou? Quais os rabos presos do Mercadante? O que ele esconde??
É triste!
Um abraço
José FRID
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