AMARQue pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de AndradePoema afixado em letras garrafais na parede da Estação Vila Madalena do Metrô, dentro do Projeto "Poesia no Metrô", 20 de outubro de 2009José FRID
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Amar no Metrô
Marcadores:
Carlos Drummond de Andrade,
José Frid,
literatura,
Metrô de São Paulo,
Poesia
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário