quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Lúcia McCartney - Rubem Fonseca



Livro de contos lançado em 1970 com grande sucesso de público e de crítica.



O universo de Rubem Fonseca está lá: boxeadores, garotas de programas, policiais, terroristas, a violência cotidiana.



O conto mais famoso do livro é o que lhe dá o título, "Lúcia McCartney". Ele ousa na forma de apresentar a estória, com quebras de parágrafos, uso de chaves e colchetes, mistura de vários tipos de recursos estilísticos. Deve ter sido grande novidade no início dos anos 70, mas hoje parece coisa velha, cansada. E, retirando os malabarismos formais, sobra pouca coisa.


O primeiro conto do livro, "Desempenho", é composto pela narração em tempo real de uma briga de "Vale Tudo" feita por um dos lutadores. Imprevisível e glorioso como a própria luta.


O advogado Mandrake, que virou série da HBO, aparece pela primeira vez entre os livros de Rubem Fonseca, no conto "O Caso de F.A.". Uma bela estreia, num conto veloz, surpreendente e, porque não dizer, moderno.


"O Quarto Selo" parece-me também datado, reação à ditadura em vigor. Abusa de expressões abreviadas como as usadas por militares, que hoje não têm o menor interesse.


"***(Asterísticos)" faz uma crítica ao teatro dito de vanguarda. Crítica atualíssima, pois não estamos livres de, hoje em dia, ser surpreendidos pela encenação (ou filmagem) do catálogo de endereços de uma cidade. Sim, o texto da peça é o catálogo telefônico de endereços. Nem o censor, estamos na década de 70, entende o que está acontecendo e libera a peça.


"O encontro e o confronto" versa sobre dois rapazes bem nascidos que fazem um programa com duas putas. É o nascimento dos metrossexuais: "É um pena nós não sermos homossexuais. Essas putas não sabem entender o nosso wit".


Dois contos curtíssimos - uma página - são muito interessantes: "Corrente" e "Os inocentes" (transcrito aqui).


"Manhã de sol" é um dos últimos contos do livro, deixando um gostinho de "quero mais". Narra, de uma forma deliciosa, a prisão em flagrante de um punguista. Para mim ainda tem um interesse especial porque o assalto do punguista e a sua fuga ocorrem no bairro de Botafogo, entre a Rua Dezenove de Fevereiro e a entrada da Favela Dona Marta, trecho onde morei quando criança e pré-adolescente. Meu apartamento ficava na rua Voluntários da Pátria quase esquina com a rua Dezenove de Fevereiro; minha escola na rua México, quase na entrada da favela.


Os demais contos não despertaram maior interesse.


José FRID

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