quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A poesia é um inutensílio - Paulo Leminski


"Eu acho que a poesia é um inutensílio. A única razão de ser da poesia é que ela faz parte daquelas coisas inúteis da vida que não precisam de justificativa porque elas são a própria razão de ser da vida. Querer que a poesia tenha um porquê, querer que a poesia esteja a serviço de alguma coisa é a mesma coisa que querer que um gol do Zico tenha uma razão de ser além da alegria da multidão. É a mesma coisa que querer, por exemplo, que o orgasmo tenha um porquê. É a mesma coisa que querer que a alegria da amizade e do afeto tenha um porquê. Eu acho que a poesia faz parte daquelas coisas que não precisam ter um porquê. Para que porquê?"


"A burguesia criou um universo onde todo gesto tem que ser útil. Tudo tem que ter um para quê... O pragmatismo de empresários, vendedores e compradores mete preço em cima de tudo. Porque tudo tem que dar lucro. A ditadura da utilidade é unha e carne com o lucrocentrismo de toda essa civilização. E o princípio da utilidade corrompe todos os setores da vida, nos fazendo crer que a própria vida tem que dar lucro. Vida é dom dos deuses, para ser saboreada intensamente até que a bomba de nêutrons ou o vazamento da usina nuclear nos separe deste pedaço de carne pulsante, único bem de que temos certeza".


Paulo Leminski


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