terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dois homens, um destino




A vida é breve como um tesão.
Para todos.
Pega de surpresa e leva como um lotérico tsunami.
Não há como prever, reagir, parar, mudar
Tem sorte quem boiar no mar de excrementos.
A queda é certa, o mar profundo, fim.
Ou isso seria a morte?


Para um a missão na terra desgraçada é mantê-la asseada.
Dana-se varrendo ruas trastes sonhos vidas.
Segue pela avenida destino em seu uniforme mortalha laranja alerta,
Esgueira-se pelos meios-fios serpentes, guias santas, calçadas esquivas
Qual Síssifo a polir as veias da cidade, por companheiro só um laranja carrinho.
Cada um com sua cruz destino inglório
Vassoura crucifixo, ora nas mãos postas, ora nos ombros largos
Deus dá o que se pode carregar, dizem os santos adoradores do bolso alheio.


Cuidado, cuidado, cidade crua, trânsito faminto
de homens lindos, mulheres viris, crianças violentas, velhos pederastas
de sangue, fezes, almas, vísceras, miolos, consciências, carnes pulsantes


Para o outro destino é correr rua abaixo, ladeira acima, assar batatas.
Bicicleta bike camelo avião, bermuda alegre ovos seguros, capacete proteção.
Segue pelas artérias esclerosadas da urbe louca, driblando buracos toscos,
carros gulosos, motos camicases, ônibus tubarões, caminhões orcas
O perigo é belo, a vida próxima, navegar é preciso.


Atenção, atenção, cidade circo, tráfego voraz
de homens vermes, mulheres dádivas, crianças eternas, velhas senhoras
de mentes, peles, pés, pernas, cérebros, cabelos, olhos azuis, braços abertos


Limpa que limpa, pedala que pedala, cada qual no rumo incerto certo.
Ali, onde a zebra atravessa a pista, a cascavel e sucuri se abraçam,
E a águia no poste repousa, os dois se encontram às margens da avenida vida.


Informe meu destino, indaga o célere ao zelador da cidade.
Às margens estão, dois homens um só destino certo seguro atual agora.
A cruz no chão, o braço laranja aponta ao longe, olhos atentos sob o capacete.


A águia vê mas se cala, só olhos eletrônicos, sem bico nem asas.
Não tem como alertar que no rio tem tubarão azul metálico, faminto de corpos
mais que isso, centopéia orca, baleia Jonas.


É lá? Sim, pra lá, de onde vem esse rio metal borracha vidros fumaça.
Antônio aponta o destino para Fernando, lá, na direção do sol.
Gentis, prestimosos, ali, às margens da avenida morte,
alheios ao fluxo que passa veloz, ao rugido sólido, às máquinas ferozes.


Eis que uma desgarrada da manada cardume, segue reto, inflexível, metal, vidros,
devora homens, dois, tromba carros, dois, abraça poste, a águia voa enfim.
Das suas entranhas expostas fogem mil corpos celestes admirados com a vida
sob seu corpo jazem ex-homens, carrinho, bike, cruz, capacete,
sangue, almas, vísceras, consciências, cabelos,
mentes, peles, pés, pernas, cérebros, braços entrelaçados


Ali, às margens da avenida morta vida,
um só destino,
dois homens.


José FRID

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom , parece a torneira do Joyce...

André

Anônimo disse...

Você conseguiu captar perfeitamente não só o momento como o "sentimento" do fato.

Abraços,

Fátima.