quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Roma


A Benção Papal

Roma, Dezembro – Quando se chega pela primeira vez a Roma, tem-se a idéia de pisar uma cidade absurda. Nesta terra onde um fósforo se chama "fiammífero" e onde o garção nos avisa que o café vem "subito" – e a gente tem a impressão de que ele vai surgir de repente em cima da mesa sem que ninguém o traga – tudo é colossal e desmedido: a língua, expressiva e exagerada, as majestosas ruínas, o incrível Vaticano, a insistência dos guias, a beleza de algumas mulheres, a polidez dos guarda-roupas (200 liras), a solicitude dos motoristas de táxi, aliás "autistas". Em cada canto se tropeça com uma antiguidade venerável e quando se acaba de admirar um palácio renascentista, cai-se subitamente sobre um pórtico romano, umas termas imperiais, um trecho de muro anterior a Cristo, tudo misturado numa exuberante demonstração de velhice, de força e de inexcedível beleza. Roma não é uma cidade, é um museu. (...)
(L.M)


Luís Martins in "O Estado de São Paulo - 6 de janeiro de 1951, via "As Cartas de Tarsila do Amaral e Anna Maria Martins para Luís Martins", de Ana Luisa Martins.

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