Eu quero lhe dizer desta poesia cabloca, ou vamos chamar, poesia matuta, o que é que sou e o que é que eu canto.
Sou filho da mata, cantor da mangrossa, trabalho na roça, tenho verme e destio.
A minha choupana é tapada de barro, só fumo cigarro de palha de milho.
Sou poeta da brenha, não faço patê, se algum menestré, errante cantor, que vive vagando com sua viola, cantando pachola para cura de amor.
Não tenho sapiência, pois nunca estudei, apenas sei o meu nome assinar.
O meu pai, coitadinho, vivia-se em pobre, e o filho do pobre não pode estudar.
Meu verso rasteiro, singelo e sem graça, não entra na praça no rico salão.
Meu gado só entra no campo e na roça, na pobre palhoça, da serra ao sertão.
Só canto o bulício, da vida apertada, da vida pesada da roça.
E, às vezes, recordando a minha mocidade, canto uma saudade que mora em meu peito.
Eu canto o cabloco com suas caçadas, na noite assombrada, que tanto apavora.
Por dentro da mata, com tanta coragem, topando com a chamada caipora.
Eu canto o vaqueiro, vestido de couro, brigando com o touro no mato fechado.
Que pega na ponta, do bravo navio, ganhando elogio do dono do gado.
Eu canto mendigo, de sujo farrapo, com peça de trapo e mochila na mão, que chora pedindo "socorro, doutor!, e tomba de fome, sentado e sem pão.
E assim, sem cobiça, eu vivo contente, feliz com a sorte.
Morando no campo, sem ver a cidade, cantando as verdades das coisas do Norte.
Patativa do Assaré in Revista Brasileiros, março de 2009
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