sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ano Novo



Rio, 31 de dezembro – Quando esta crônica for publicada, 1951 será somente uma referência do tempo extinto, um marco que situará coisas já acontecidas e jamais renovadas. Como 1950, 1937 ou 1925, será apenas um dos muitos pseudônimos do passado, essa massa enorme de tempo imóvel que todos nós carregamos como um peso morto. Estou escrevendo nas últimas horas da tarde do último dia do ano. (...)


Está feliz o leitor? Passará um "reveillon" alegre? Tanto melhor, estimo muito. Quanto a mim, devo declarar que recebi uns dois ou três convites para passar com amigos festivamente a ameia-noite de hoje mas, para ser franco, confesso que não pretendo sair de casa. Não, não irei a lugar nenhum. De resto, para quê? Mata-se o tempo em toda a parte e um ano que morre só difere de um minuto que passa porque os anos são numerados e os minutos se perdem no anonimato das coisas insignificantes e miúdas. (...)


Não saberia dizer se o Rio está realmente alegre, nesta passagem de um ano que não foi lá essas coisas, para outro que, tudo indica, não há de ser melhor. Sei que há muita gente nas ruas, o que dá sempre um ar de festa, mas que talvez se possa atribuir apenas ao calor.
Não importa: 1951 está morto, viva 1952!!


(L.M)


Luís Martins in "O Estado de São Paulo, via "As Cartas de Tarsila do Amaral e Anna Maria Martins para Luís Martins", de Ana Luisa Martins.


Veja aqui o motivo da tristeza do autor.

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