Paulista, vinte e uma horas de uma quarta-feira qualquer. Noite muito agradável. Caminho com minha cara-metade no sentido da Consolação. Acabamos de assistir uma peça tipo "papo–cabeça". Metade da platéia dormiu, alguns chegaram a roncar. Da metade acordada, só uns vinte por cento entenderam alguma coisa.
Procuramos algum lugar gostoso para comer e/ou beber algo, mas está tudo lotado. Como eu disse, a noite está muito agradável, estimulando atividades "out-door": ninguém está com pressa de ir para casa. Corredores e ciclistas passam pela calçada, aproveitando a baixa no movimento de pedestres. Só precisam desviar dos bares, seus freqüentadores e garçons. A calçada nova está lisinha, ótima para andar de skate, patins e outras coisas com rodinhas. Os skatistas estão em toda avenida a saltar obstáculos (e a cair também).
Passa por mim uma mulher puxando um carrinho de feira, que desliza suave na nova calçada, cheio de garrafas com um líquido amarronzado. Não consigo identificar exatamente o que elas conteriam porque a mulher caminha apressada.
Esqueço dela, fugaz figura, entretido em caminhar e conversar com minha mulher. Quando já estamos na outra quadra, vejo aproximar-se outra mulher puxando um carrinho contendo as mesmas garrafas. Ela está vestida como a primeira, com roupas coloridas superpostas parecidas com as das ciganas. Curioso, agora olho com atenção para ver se consigo identificar o que contêm aquelas garrafas. Esse meu interesse chama a atenção da mulher, que desvia da sua rota e se aproxima de mim. Ela tem uma das garrafas na mão. Ao chegar perto de mim fala:
- Mocinho, quer comprar mel puro? É do interior, da fazenda, mel puro, eu garanto, pode acreditar em mim.
Apregoa as qualidades do seu mel, ao mesmo tempo em que fica virando a garrafa na vertical várias vezes, fazendo surgir bolhas que sobem e descem no líquido espesso da cor de caramelo, truque que dizem mostrar a pureza do mel.
Olho para aquela garrafa sem rótulo, reaproveitada de alguma bebida alcoólica, vedada por rolha também reciclada. A única garantia da pureza do mel é a palavra da vendedora. Será que posso confiar nela?
Não, não posso. Como acreditar em quem, diante dos meus cabelos prateados e da minha cara já "maracujando", chama-me de "mocinho"? Que honestidade é essa? Má-fé atrás do meu dinheiro. Ainda que ela me chamasse de bonitão ....
Recuso educadamente e sigo em frente, para decepção da vendedora. Mais para frente surge outra vendedora de mel com seus trajes aciganados. Isso desperta a lembrança da última vez que fui chamado de "mocinho": uma cigana do Viaduto do Chá, que não é exatamente um exemplo de honestidade.
Acho que as melíferas vendedoras estão precisando de um bom consultor de marketing!!
José FRID
6 comentários:
Frid,
Adorei, aliás, venho adorando seus textos e suas experiências. É muito legal participar de suas "aventuras" inteligentes.
Desejo uma Boa Páscoa para você também e, logicamente, para sua esposa e toda a família.
Abraços,
L.
Não se deprecie, mulher,...ops, não se deprecie, homem, ou melhor, mocinho.
Talvez ela tenha achado que você é um mocinho, travestido de senhor de meia idade, só pra não chamar muito a atenção das moçoilas dos bares da paulista. Afinal, nessa fase atleta, o corpitcho deve estar apresentável. A os cabelos brancos podem começar a surgir na mais tenra idade, assim como aconteceu com meu avô e comigo.
Então, talvez, a mulher tenha sido sincera em sua visão.
Bom feriado.
B.
Menos, menos. Ela queria era meu dinheiro!!!
Nem mocinho, nem senhor de meia idade!!! Apenas um jovem senhor!! (apesar que se estiver na meia idade não é nada mal: cem pela frente! Será que aguento??)
Boa Páscoa!!
FRID
Sai pra lá !!!!!!!!!
Macho que é macho não toma mel.
Come a abelhinha.
S.
Também!!
Qta desconfiança neste coração! Já está totalmente contaminado...que tristeza!
É por aí mesmo a coisa.
Z.
Postar um comentário