quinta-feira, 8 de abril de 2010

Viagem de Paris ao Rio de Janeiro em agosto de 1947



Tá com medo de viajar de avião?

Veja abaixo como era uma viagem de Paris ao Rio em 1947. E o autor da narrativa ainda dizia que não tinha nenhum medo, pois o avião era seguríssimo!!

Fazia mais calor dentro do avião que em Dacar. Em Recife tinha ambulante vendendo cocos para os passageiros!

Crie coragem e voe!!

José FRID


Paris, 7 de agosto de 1947

Calor tropical. O avião está atrasado; algo com o motor. Os horários não têm, nas estradas celestes, o mesmo rigor que nas estações terrestres.(...) Depois o alto-falante nos chama.(...) O grande avião da Panair do Brasil decola (...)

Lisboa, 8 de agosto

Tivemos que passar a noite aqui para revisão do motor duvidoso. Essa escala imprevista de cinqüenta passageiros teria sido causadora de furores sem a graça e a eficiência da aeromoça portuguesa (...) Em menos de uma hora alojou, pacificou e encantou aquela manada resmungona de descontentes.

Longo trajeto até Dacar. (...) Aliás, num avião, seria difícil para mim imaginar um perigo; percorri. Sem acidentes, centenas de milhares de quilômetros e tenho no ar um constante sentimento de segurança.

Dacar

Triste charneca em torno do aeroporto, cujos barracões são pouco dignos de acolher os viajantes às portas da França. Faz calor, mas menos que em Paris, muito menos que no avião. (...) Testes de motor, depois apontamos para o oceano. (...) O ar era tórrido, o sono rebelde, o barulho doloroso.

Recife

Depois de longas, muito longas horas, uma dor aguda nos ouvidos me diz que vamos descendo. Estamos em recife, capital do Estado de Pernambuco. (...) A noite é febril. A terra enlameada, cheia de poças quentes. Do lado de fora um negro vende cocos, que abre para o comprador, e cuja água bebo, morna e insípida.

Rio de Janeiro, 9 de agosto

Chegada ao Rio às quatro horas da manhã. Os aviões grandes não podem aterrissar no aeroporto Santos Dumont, que fica no coração da cidade. Da ilha onde pousamos é preciso ganhar a costa de lancha. (...) O ar fresco, na proa da lancha, me reanima, mas a escuridão nos priva do panorama, tão esperado, da baía. Procuro os picos célebres: o Pão de Açúcar, o Corcovado, o Bico do Papagaio, o Dedo de Deus, mas só percebo ilhas cheias de vegetação e, ao longe, as luzes da cidade.

Por fim o cais. (...) Meu hotel (Copacabana) se encontra a nove quilômetros da cidade. Quando lá chegamos estava amanhecendo. Agora começo a distinguir as montanhas sublimes e estranhas. Um dos meus amigos conta que Paul Claudel, quando era embaixador no Rio, dizia que Deus havia caprichado para fazer desta baías a mais perfeita paisagem do planeta, mas que então um anjo perturbou o Altíssimo e que, por esta razão, alguns picos estão colocados de atravessado ou dobrados de maneira estranha. De fato, nunca vi formas naturais mais surpreendentes. Dir-se-ia que em torno das curvas harmoniosas da baía um artista japonês desenhou cumes impossíveis, proeminências corcundas, tortas. Ora, é esta mesma estranheza que faz a beleza única do Rio. A dissonância sublinha as harmonias.


André Maurois in "Diário de uma viagem pela América Latina", Editora Record.

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