Medo de avião

Outro dia fui assistir ao filme "Chico Xavier". Assista, se puder. O filme é bem feito, e tem uma história muito bem contada. Prende a sua atenção pelas suas duas horas de duração. Quando os créditos aparecem, começa a ser mostrada uma entrevista com o Chico Xavier, em preto e branco. Conclusão: ninguém sai da sala até o seu fim. A entrevista, no programa "Pinga Fogo" da Tupi, é recriada no filme, ligando as várias partes da vida do Chico Xavier que são mostradas na tela.

Uma das cenas mostra um avião (1959) enfrentando fortes turbulências. Os passageiros assustados berram a cada sacudidela mais forte, principalmente o Chico Xavier, que pede para Deus salvá-lo. O seu guia espiritual, Emanuel, corporificado, diz que naquele momento tem muita gente em risco de vida, que ele e os passageiros não mais importantes que os outros e que Deus não pode ajudar a todos. Chico Xavier fala que sabe que não é especial, mas não quer morrer. O guia repreende-o pelo escândalo, exigindo que ele dê o testemunho de sua fé, acalmando-se e aos demais passageiros, ou seja, "morrendo com educação".

O médium retruca que tem fé, mas que está com medo e vai gritar muito. O avião sacoleja mais uma vez e Chico grita de pavor junto com os outros passageiros. Essa cena de contradição entre a fé e os medos do homem é muito engraçada e todos os espectadores dão gostosas risadas. O medo de voar iguala a todos!

Essa cena lembrou-me de uma viagem que fiz a Punta de Leste num carnaval. O avião estava cheio e sentei ao lado da janela. Uma senhora desconhecida sentou-se ao meu lado. Como não tenho nenhum medo de voar – de voar, registre-se; caso o avião ameace cair, provavelmente gritarei como o Chico – estava tranqüilo, lendo jornais e olhando, de vez em quando, o céu azul, as nuvens brancas. Alguns passageiros levantavam-se e vinham conversar com a minha vizinha. Alguns até tiraram fotos com ela. Nem liguei, deveriam pertencer ao um grupo de excursão.

Só no translado do aeroporto ao hotel é que fui descobrir que era a "Mãe Dináh", vidente que na época aparecia na televisão. Os passageiros estavam curiosos: Viera jogar? Quebraria as bancas dos cassinos? Iria dar consulta? Alguns diziam que a mulher era poderosa – "profetizara" a morte dos "Mamonas Assassinas". Para outros ela era uma farsante, errara ao "prever" a vitória do Senna na prova em que ele faleceu e não previra a sua própria derrota na eleição para vereadora.

Chego atrasado para o embarque para São Paulo. Para minha surpresa a sala de espera do pequeno aeroporto ainda está lotada. Olho pela janela e o avião está aguardando-nos. Qual o problema, então? Ninguém quer embarcar, pois a "Mãe Dináh" ainda não chegou. "Será que ela previu que nosso avião" vai cair", perguntam-se alguns os passageiros. Mas ela não é uma fraude? "No creo en brujas, pero que las hay, las hay", respondem. Na dúvida, ninguém embarca.

De repente um agito percorre a multidão: ela chegou. O embarque começa, os passageiros aliviados. Autoengano, não? Se ela é realmente adivinha, a viagem está segura. Mas se é farsante, como pensa a maioria, a viagem está nas mãos de Deus! E ele pode estar ocupado com outros mais especiais. Socorro!!

José FRID

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