A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes acabam.
E mesmo estes poderão prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. (...)
O fim de uma viagem é sempre o começo doutra.
É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com Sol onde primeiramente a chuva caíra, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem.
Sempre.
José Saramago in "Viagem a Portugal", 1985.

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