domingo, 1 de agosto de 2010

UM LUGAR LEGAL PRA ESTAR (WHEN THE MUSIC STOPS)


Ela me disse casualmente

que havia notado a mancha de sangue na minha camisa

Disse a ela: Não se preocupe, não é nada

Ela respondeu: Eu não tô preocupada

Resmunguei: é melhor assim

Achei que podia me divertir um pouco

assistindo uma luta de boxe na tv

Tirei a camisa manchada de sangue e joguei no tanque

Ela vestiu uma micro-saia e saiu pra rua

Abri uma cerveja e resolvi esperar

Os ponteiros do relógio eram guilhotinas no meu pescoço

Quando ela voltou, não falei nada

Fiquei no escuro vendo ela se mexer

deixando cair sua saia

no caminho pro banheiro

Deixou a luz acesa e ouvi o barulho

não vou usar de eufemismos nesse momento

pra dizer o que ela estava fazendo

somos um casal com tempo de serviço

nossa indiferença mútua provava isso

meu enorme peso no sofá atestava isso

Ela acendeu um cigarro no escuro da sala

e a chama do isqueiro fez com que ela me notasse

"é mais difícil do que você imagina", ela disse

e o seu desprezo me acertou como um blefe de pôquer

Ainda ficou um tempo olhando pra mim

antes de vencer o orgulho e perguntar

"O que era a mancha na sua camisa?"

"Já disse. Não é nada. Não precisa se preocupar"

Ela soltou um foda-se e foi pro quarto,

deitou e ficou fumando olhando o teto

Levantei e fui até o banheiro

Cambaleei e tive que me apoiar na porta

Abri o armário e peguei o mercúrio cromo

ou você não sabia que a maioria das histórias de amor

terminam com alguém limpando as feridas?



Mário Bortolotto

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