sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Cena Paulistana



Eles estão sentados de frente para mim. Ela parece uma jovem senhora, ele um adolescente. Estarão juntos? Mãe e filho? Nem tanto. Quem sabe uma irmã mais velha, uma tia nova.


Ele com cara de moleque, bigode ralo, boné, fones atochados nos ouvidos, camiseta, calças daquelas caindo e tênis. Balança o corpo no ritmo da música, inaudível para os outros passageiros. De vez em quando para, saca do bolso da calça larga um pequeno aparelho. Procura música ou estação de rádio. Guarda o aparelho e volta a oscilar ritmicamente o corpo.


Os dois olham-se de vez em quando, mas não se falam. Eles também olham para as pessoas circundantes, mas sem interesse especial em ninguém.


Ela olha pela janela. Saia jeans, pouco acima do joelho, camiseta roxa com desenhos discretos, bolsa, tênis, meias brancas com aplique de flores. Cabelos presos, sem maquiagem.


Estou em pé, próximo da porta, lendo. De vez em quando dou uma pausa, ergo os olhos e reparo nas pessoas ao redor. Percebo que eles também me olham, ocasionalmente. Numa dessas pausas, olho para ele e percebo a aliança dourada, grossa e brilhante, que está usando. Mão de casado. Será? Tão novo. Procuro a mão dela: a mesma aliança. Casados entre si? Gravidez inesperada?


Não parece ter relacionamento tão profundo, pois não se falam, não se tocam. Ele com sua música, ela meio mal-humorada olhando para fora do vagão. Reparo bem, ela não aparenta estar grávida. Casados entre si?


O metrô para na estação do Largo de São Bento. Ele confere o local, dá um toque nela e os dois levantam-se. Ao sair do vagão ele tenta enlaçá-la pela cintura, mas ela refuga. Acabam trocando de lado. Ele pega a mão dela e saem sorrindo.  Dois jovens: ela com rabo de cavalo e saia curta, ele com boné e exibindo parte da cueca.


Próximo às escadas rolantes ele aponta para a placa da Vinte e Cinco de Março. Sorriem e beijam-se. Vão as compras, que parecem ser afrodisíacas!


O amor é lindo, mesmo com um pouco de dinheiro no bolso!


José FRID


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