sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Livros


Se nunca houve tempo
para ler todos, terei tempo
para ler os que preciso?
Só Borges leu todos
sabendo os que precisava
pressionado pela cegueira.
Não tenho essa urgência
nem o engenho do outro, do espelho
ou o belo perigo do tigre.
Por isso, eles transbordam
pelas estantes, oferecidos
para o cego desde sempre.
Por isso, é que não consigo
arrumá-los, ou se os arrumasse
os arrumaria como na morte.
Também não tenho o gênio
para dizer que tudo vai
acabar num livro.
Só sei que tudo não acabará
num livro, e sim que tudo
vai acabar comigo.


Armando Freitas Filho in "Sabático - O Estado de São Paulo", 24 de abril de 2010

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