sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Poeta-Operário




Grita-se ao poeta:

"Queria ter ver numa fábrica!

O que? Versos? Pura bobagem!

Para trabalhar não tens coragem".

Talvez

ninguém como nós

ponha tanto coração

no trabalho.

Eu sou uma fábrica.

E se chaminés

me faltam

talvez

sem chaminés

seja preciso

ainda mais coragem.

Sei.

Frases vazias não agradam.

Quando serrais madeira

é para fazer lenha.

E nós que somos

senão entalhadores a esculpir

a tora da cabeça humana?

Certamente que a pesca

é coisa respeitável.

Atira-se a rede e quem sabe?

Pega-se um esturjão!

Mas o trabalho do poeta

é muito mais difícil.

Pescamos gente viva e não peixes.

Penoso é trabalhar nos alto-fornos

onde se tempera o ferro em brasa.

Mas pode alguém

acusar-nos de ociosos?

Nós polimos as almas

com a lixa do verso.

Quem vale mais:

o poeta ou o técnico

que produz comodidades?

Ambos!

Os corações também são motores.

A alma é poderosa força motriz.

Somos iguais.

Camaradas dentro da massa operária.

Proletários do corpo e do espírito.

Somente unidos,

somente juntos remoçaremos o mundo,

fá-lo-emos marchar num ritmo célere.

Diante da vaga de palavras

levantemos um dique!

Mãos à obra!

O trabalho é vivo e novo!

Com os oradores vazios, fora!

Moinho com eles!

Com a água de seus discursos

que façam mover-se a mó!



(1918)



Vladimir Maiacovski
in "Antologia Poética", tradução de E. Carrera Guerra, Editora Max Limonad Ltda., segunda edição, 1983

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