segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

À ESPERA DOS BÁRBAROS



O que esperamos na ágora reunidos?


É que os bárbaros chegam hoje.


Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?


É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.


Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?


É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.


Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?


É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.


Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?


É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.


Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?


Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.


Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.



Konstantinos Kaváfis in

De Poesia moderna da Grécia (seleção, tradução do grego, prefácio, textos críticos e notas de José Paulo Paes) Ed. Guanabara, 1986

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá Frid!
Belíssima poesia.
Parabéns pela escolha.
F.

Metamorfose Ambulante disse...

E atual!

Frid

Anônimo disse...

Meu amigo!
Os bárbaros ainda estão por aí, trucidando seus irmãos para dizer-nos eu mando e faço o que quero, mas esquecem de dizer: sou odiado e não tenho amigo algum, coisa triste não.
Aquele abraço.
M.