Você sabe o que é um plugue copulatório?

Minha cara leitora, meu caro leitor (se é que existe alguma, algum)

Não se preocupe com o título desta crônica, pois não vou tratar aqui de alguma sacanagem, mas de assunto sério, científico, apesar de curioso. E não se assuste com a palavra "sacanagem", pois não é mais palavrão, até em novela das seis é pronunciada, sem falar no nosso ex-presidente, e consta do "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa", lista oficial das palavras em português.


Depois dessas explicações iniciais, refazemos a pergunta: você sabe o que é um plugue copulatório?

A palavra "plugue" sozinha a gente tem ideia do que seja, algo que une duas partes, uma coisa que entra em outra (epa!), ou mais especificamente, como ensina o Houaiss, "peça com um ou mais pinos que penetra na tomada, estabelecendo ligação elétrica" ou "tomada fêmea de ferro de passar roupa, que recebe o pino do fio de extensão". O dicionário explica mas complica, pois plugue tanto é a coisa com pino que penetra quanto aquela que recebe o pino, um verdadeiro troca-troca entre plugues (epa!).

Por falar em um peça com um ou mais pinos, você sabia que o caranguejo tem dois pênis?? Dois! Mas a carangueja é igual à tomada do ferro de passar roupa: duas também! A natureza é sabia, sempre deixa o casal feliz! (Não acredita? Veja aqui dissertação sobre o tema, inclusive com fotos). Dá até para imaginar a cena no manguezal ao lado da praia de nudismo: o caranguejo olhando para cima e dizendo ao nudista: o teu é grande mas não é dois!

Encerrando a digressão animal e retornando ao assunto principal, com a questão do plugue já esclarecida, passemos ao "copulatório". Essa palavra também é fácil, deve vir de cópula, que é ligação, vínculo, ato sexual, coito (que palavrinha feia, não?). Parece até redundante, pois "plugue" já sugere ligação e "copulatório" também. Apesar de eu ter avisado no início, provavelmente você agora já deve estar pensando em alguma sacan..., imaginando que o tal "plugue copulatório" seja algo utilizado para ligar os corpos no ato sexual, talvez um brinquedinho erótico, algemas, coisas assim.

Ledo engano, caro(a) leitor(a)! Como mencionei no início, o assunto aqui é sério, científico!


Se não como imagina, você agora deve estar se perguntando onde eu arranjei essas benditas palavras, onde li sobre o tal plugue copulatório. Eu revelo já: artigo de divulgação do descobrimento de nova espécie de roedor na Mata Atlântica brasileira, um bichinho de cerca de 30 centímetros contando o rabo, e que vive no alto das árvores, em São Paulo e Santa Catarina. Trecho da notícia publicada na Folha:

"A mata mais estudada (e mais devastada) do Brasil ainda abriga várias espécies desconhecidas, mas é provável que poucas sejam tão enigmáticas quanto um certo roedor de pelagem densa.

Não é exagero chamar o Drymoreomys albimaculatus, recém-descoberto habitante da mata atlântica, de náufrago evolutivo. Segundo biólogos, a espécie mais aparentada ao bicho vive... num vale árido dos Andes peruanos, sabe-se lá o porquê.

O estudo descrevendo a nova espécie saiu recentemente na revista científica "Zoological Journal of the Linnean Society". É uma amostra de que as surpresas da floresta que um dia dominou a costa brasileira ainda estão longe de terminar.

"Esse resultado realmente foi muito estranho", confessa Alexandre Reis Percequillo, do Departamento de Ciências Biológicas da USP de Piracicaba. "Talvez o fato de que ambos os bichos pertençam a grupos montanos [típicos de áreas montanhosas] ajude a explicar esse padrão, mas é cedo para dizer."

(...)

Sabe-se pouco sobre o bicho, apesar de algumas pistas vindas de sua anatomia. A palma das patinhas e o espaço entre os dedos, por exemplo, possuem "almofadas" que ajudam o animal a manipular com mais sensibilidade os galhos nos quais fica dependurado."

Percebeu como o assunto é sério? E é esse ratinho que vive no alto das árvores que tem o tal "plugue copulatório". Mas antes de adentrarmos pelo plugue, cabe observar: rato que vive no alto das árvores? O que ele estaria fazendo lá? Rato não corre pelo chão e se esconde em tocas, buracos, etc.? Será por causa do plugue? Acho que é um rato com espírito de morcego. Vamos ao resto da notícia:

"Já o pênis dos machos carrega glândulas que produziriam uma secreção viscosa, formando o chamado plugue copulatório. É um cinto de castidade, feito para impedir que a fêmea acabe cruzando com machos rivais."

Captou agora? O tal "plugue copulatório" não une, impede a união!! Ratinho esperto, não quer ser corno!! Não quer criar filhos dos outros! Nota-se, então, que o nome do troço está errado, deveria ser algo como "rolha anti-copulatória", "tranca copulatória", etc. e tal. Deve ser algum erro de tradução.

Fui verificar "plug" no dicionário de inglês e está lá: rolha, tampa; válvula; tomada; pino de tomada, plugue; hidrante; obstrução, bloque; massa grumosa que obstrui uma abertura (Medicina); hidrante; propaganda; tampão (Gíria). Assim, "copulatory plug" descreve corretamente o que seja o artifício utilizado pelo ratinho, mas plugue copulatório tem o sentido inverso.Tradutores ....

Pesquisei e constatei que a tal "rolha anti-copulatória" não é exclusividade do ratinho em questão, sendo muito comum em outros roedores (ratos comuns, camundongos, pacas, preás, cobaias), em insetos, ofídios, marsupiais e até primatas, todos com a mesmo preocupação: evitar criar os filhos do "Ricardão"!

Entretanto, assim como os cintos de castidade não davam garantia plena aos maridos - o ferreiro poderia ter feito chave extra, o material enferrujar, o chaveiro abrir a fechadura com jeitinho, a peça sair do lugar, etc., o "plugue copulatório" nem sempre é eficaz, pois as pesquisas relatam que as fêmeas às vezes lambem seu órgão sexual e evitam a formação da "rolha", do "plugue".

O que o ratinho recém-descoberto pode fazer? Ele, lá no alto das copas das árvores deve seguir o conselho da ex-ministra, "relaxa e goza", pois, como ensina o ditado popular, "pai é quem cria"!

José FRID