terça-feira, 12 de abril de 2011

Em surdina




Em surdina
(para um balé de balanchine)


I


ela pode voar
(ele acredita)
no movimento
que desamarra dentro
- de' entre os braços
que um necessário apolo
ergueu a tempo para essa alegoria -
como se denso
embora leve
detendo-se o corpo se desse
em asas
- asas ao inverso,
que nela o vôo
não alça: desata -
como se um vento (ou
o que, íntimo, levita)
soprando de dentro
sobre a água fixa da platéia a erguesse
antes mesmo
que os dedos-palafita
de um parceiro a tocassem
(como tocam agora) as
costelas
onde um par de asas se agita


II


o corpo um arco
encordoado para fugas
(ou será ela
a própria flecha
Que dispara?)


Cláudia Roquette-Pinto in Zona de Sombra, 1997

Nenhum comentário: