quinta-feira, 16 de junho de 2011

Corpo independente do teu corpo

Tudo isso porque teu corpo não respondeu aos apelos do meu como de hábito. Aconteceu. Mistério masculino a respeito do qual, em nome do feminino, proponho rir.
Não fosse pelo teu aspecto mal-humurado, poderíamos, já que estamos nus, gastar o tempo, mapeando nossas sensações, descobrindo nossos bordados. Ou, quem sabe, um ou o outro poderia ir até a cozinha buscar mexilhões e cerveja, laranjas, tem tudo isso na geladeira. (Se eu pudesse te ensinar que há muito mais coisa a fazer numa cama do que ficar aprisionado aos caprichos de um falo.)
Se, por acaso, como um corpo independente do teu corpo, ele não quis obedecer, não vejo nisso nenhum defeito. Você sabe disso, eu sei. Mas pensa que eu talvez possa não pensar do mesmo jeito.


Joyce Cavalccante in "O Discurso da Mulher Absurda", Editora Maltese, 1994

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