segunda-feira, 27 de junho de 2011

PENSO, LOGO CAGO




#5 PENSO, LOGO CAGO [1977]

 
Eu não nasci, pois não me lembro de isso ter acontecido. Não morri, pois também não me lembro que isso tenha acontecido. E, se não nasci nem morri, das duas uma: ou sou Deus ou não existo. Ora, como nem tudo que eu quero acontece e nem tudo que acontece eu quero, não sou Deus. Portanto, não existo. Logo, não penso. Então este raciocínio é falso, e nesse caso eu não passo de um mero amnésico. De qualquer maneira, nada tem importância: se perco a memória, tanto faz que tudo seja ou não verdade. Basta dar a descarga e passar pro papel. 




NOTA: Foi publicado originalmente no "Jornal Dobrabil" e seu discurso sofismado joga com o duplo sentido (filosófico e fecal) da escatologia. O poema está incluído na coletânea "Memórias de um pueteiro" e na antologia "Poesia digesta: 1974-2004".

3 comentários:

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkk faz sentido! gostei!

Anônimo disse...

Bom dia Frid!
Amei a poesia!
Ótima semana para você!
Abraços,
Fátima

Anônimo disse...

muito bom!

Rosângela