Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade in Antologia Poética, Record, 28ª edição, 1992
9 comentários:
O concreto e o abstrato amor retratado de Drummond.
Muito bom!
Henrique
O homem entendia do verso. E de amar!
Frid
Drumond é Drumond!!!!!
Que maravilha começar a semana com ele....
Abraços,
Fátima
Adaptando Drummond para sua realidade:
Que pode uma criatura ruiva senão,
entre criaturas, amar?
Boa semana!!
Frid
UAUUUUUUUUUU!
Amei a frase. Pode ir para meu face?
Yes, you can!
Adoro as segundas-feiras
bjs
Rê
E eu acho que o seu "segunda é dia de poesia" é o seu amor ao mundo. Tô certa?
Boa semana.
Beth
Também!!
Tirando o amor, o que sobra?
Frid
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