#6 ROMEU E EU (conto dialético e, ipso facto, poema romântico) [1977]
Eu quero brincar com você. Papai não deixa. O Diretor proíbe. A Esquerda se opõe. Você me chama e eu morro de vontade. Papai me ameaça. O Diretor me intima. A Esquerda me aterroriza. Saio escondido, procuro por você, mas eles me acham. Papai me bate. O Diretor me põe de castigo. A Esquerda atenta contra mim. Fico esperando, você me procura, nos encontramos no escuro, nos pegam em flagrante. Papai me expulsa. O Diretor me interna. A Esquerda me seqüestra. Escapo e sobrevivo, mas você não está livre. É filho de seu Papai. Disciplinado ao seu Diretor. Prosélito da sua Esquerda. Vivo solitário, você prisioneiro, e não podemos brincar. Castram nossa infância porque você é igual a mim, sua vontade igual à minha, mas nos fazem diferentes.
NOTA: Aparece originalmente no "Jornal Dobrabil" e reaparece em diversos espaços periódicos, como a página "Leitura" da "Folha de Londrina" em 1983. Chegou a ser vertido para o grego por Rigas Koupa, organizador da coletânea internacional "I Elxi Tom Omonimon: Anthologia Homo-Erotikon Poiimaton" [antologia de poemas homoeróticos], publicada em Atenas (Odisseas, 2005). Como outros exemplos de "Línguas na papa", está entre os mais explícitos manifestos homossexuais do autor, recortado contra um pano de fundo histórico, representado pelo regime militar pós-64.
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