terça-feira, 6 de setembro de 2011

O DESALENTO


                                                                
                                  Ao meu amigo Leopoldo Luís da Cunha



Quando eu morrer, minha morte
Não lamentes, caro amigo,
Que o sepulcro é um jazigo
Onde eu devo descansar;
A minha triste existência
É tão pesada, é tão dura,
Que a pedra da sepultura
Já me não pode pesar.


Uma lágrima, um suspiro,
Eis quanto custa o morrer;
Custa-nos sempre o viver
Prantos, suspiros, sem fim!
Que tormento fora a vida,
Se não fosse transitória!?...
Não me risques da memória,
Porém não chores por mim.


Enchem trevas o sepulcro,
Mas ninguém delas se queixa;
Quando o morto os olhos fecha,
Não quer luz, quer sossegar;
Aquele fundo silêncio,
Aquele extremo abandono,
Dão-lhe tão profundo sono,
Que nem pode despertar.


Já tive medo da morte,
Agora tenho da vida;
Sinto minha alma abatida,
Sem vigor o coração;
Já cansado de viver,
Para a morte os olhos lanço;
Vejo nela o meu descanso,
A minha consolação.



Laurindo  Rabelo (1826-1864), in Poesias completas

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