domingo, 16 de outubro de 2011

Balada de amor na praia


Ai como sofre o corpo que se esfrega
no corpo que se entrega e não se entrega

é como a convulsão da preamar
a querer atirar o mar no ar

a onda rija bate como espada
nos musgos da mulher ensolarada

guelras arfantes pernas semifusas
grifam sombras morenas de medusas

e a verde rocha em V vê o duelo
do peixe azul fisgado no amarelo

compondo um bicho humano sobre a praia
que se desfaz em rendas e cambraia

moluscos musculares do desejo
decápode do homem - caranguejo

anêmonas e polvos complacentes
a resvalar abismos inocentes

como se amar no mar fosse encontrar
nossa animalidade elementar

ou fosse o ser na praia (duplicado
de amor) bicho de amor do mar gerado

cujas garras fatais persuasivas
deslizam pelas angras sensitivas

pelos quadris que dançam pelos frisos
conjugais - ziguezague de mil guizos -

garras que buscam a melhor textura
no ventre no pescoço na cintura

já quase a devorar a lua cheia
no litoral do céu feito de areia

e o sol diz nomes feios para a lua
pedindo que ela entenda e fique nua

para que possa a coisa hermafrodita
mudar a vida breve e infinita

e quando enfim de amor o bicho - arraia
na confusão voraz freme e se espraia

é como a convulsão da preamar
que conseguiu jogar o mar no ar


Paulo Mendes Campos

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