A rua é um livro aberto.
O olho minúsculo de um pássaro
é um livro aberto.
A porta fechada de um quarto
é um livro aberto.
Tenho escrito palavras
de muitos livros refeitos
que, surdos e quietos
tecem límpidos e claros
os seus herméticos enredos.
Na rua leio o que soletro.
No minúsculo olho de um pássaro
não leio o que vejo,
embora pássaros e ruas
me ensinem o que percebo.
Me ensinam, por exemplo,
o desterro aberto e refeito
de todo livro relido,
se atrás da porta fechada,
refaço o seu silêncio desfeito,
releio o meu silêncio perdido.
Mario Chamie in "Sabático, Estadão, 18 de dezembro de 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário