quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O poeta propõe seu epitáfio




Por ter mentido muito ganhou um céu
mesquinho, a ser refeito todos os dias.
Por ser traidor até com a traição, era amado
pelas pessoas honradas.
Exigia virtudes que não dava
e sorria para esquecerem.
Não viveu. Viviam-no, um corpo impiedoso
e uma cadela sedenta, Inteligência.
Por só acreditar na beleza, foi
Lixo entre os lixos,
mas ainda olhava para o céu.
Está morto, felizmente. Já deve haver
Algum outro como ele.


Júlio Cortázar in Revista Piauí, setembro de 2008, tradução de Ari Roitman e Paulina Watch

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