sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Vida insuficiente


Lembro de um pequeno trecho de Fernando Pessoa que sempre gosto de citar: ele diz que toda arte é a confissão de que a vida não basta. Acho que a literatura, enquanto expressão artística, não deixa de ser isso, uma espécie de busca por algo mais, esse reconhecimento de que nossa vida cotidiana não é suficiente. E não é mesmo. A gente precisa transitar, residir um pouco em lugares que são da ordem da imaginação, da fantasia, da poesia. E a literatura entra em nossa vida cotidiana - tanto na vida de quem a faz como na vida de quem a lê - dessa maneira. É a busca por uma espécie de espaço alternativo à vida, algo que nos ofereça outras visões, outras janelas, opções distintas daquilo que a gente experimenta em nossa vida prática. É uma espécie de folga da vida, mas não é uma folga fácil. A boa literatura faz a gente pensar muito, e nem sempre isso é uma coisa tranqüila e prazerosa, no sentido "férias". Nem sempre é um relaxamento. Muitas vezes é algo que nos mobiliza.


Adriana Lisboa no Paiol Literário, 29 de setembro de 2010, projeto promovido pelo jornal Rascunho em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba e o Sesi Paraná.

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