segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A Companheira de Viagem - Fernando Sabino




Último livro que li em 2011. O Mestre Sabino mostra sua arte. (Capa da edição do Círculo do Livro)


Publicado inicialmente em 1965, o livro é constituído por 39 crônicas originalmente publicadas em revistas, mas que têm "tratamento de ficção característico dos contos e das histórias curtas", como ressalta o autor no preâmbulo da obra. É a velha questão de definir o que é a crônica, trabalho para os críticos como Antonio Cândido.



Como toda coletânea, os textos escolhidos não são do mesmo nível. No caso de crônicas, face à variedade de formas, de temas,  dos veículos onde foram publicadas e da época, a desigualdade é notória.


O último texto do livro, denominado "A Última Crônica", que o autor classifica como conto, é excepcional. Curta, direta, lírica, emocionante. Quisera um dia eu conseguir escrever assim! É conto ou crônica? Não importa, é lindo! Eu classificaria como crônica, fruto da observação do cotidiano. Relata a modesta comemoração do aniversário de uma garotinha num bar da Gávea (Rio de Janeiro). Leia!! O texto integral está aqui no blog mais abaixo. Leia!!!


A crônica "Matar ou Morrer" é outro belo texto. Trata do encontro de "mocinho e bandido" fantasiados no carnaval, quando o filho do narrador é surpreendido pelo bandido e fica inconsolável. O pai tenta resolver o problema do filho procurando o "bandido" de 12 anos para novo duelo.


"Confusão com São Pedro" é ótima e mostra o diálogo desesperado de uma mulher negociando com São Pedro durante um voo turbulento. Ela está sozinha e o marido está no voo seguinte. Hilário!


"Na escuridão miserável" narra o encontro do autor com uma menininha de dez anos que já é explorada por uma família de "bem". Triste, angustioso, verdadeiro.


Podemos destacar, ainda, "Fícus italiano", sobre os problemas de um homem que resolve ter uma planta no escritório, "Fome de amor", na qual um prisioneiro relembra seu relacionamento com uma mulher que o trocou por outro, ao mesmo tempo que almoça, "Hay que vigilar", as desventuras do personagem com o conserto de eletrodomésticos, "A companheira de viagem", a burocracia para cobrar a passagem de um macaquinho: ele é ave, gato ou cachorro?, "Não estamos sós", dois bêbados decidindo se são ou não alcoólatras, "Para inglês ver", burocracia para visitar um amigo num navio estrangeiro parado no porto, atualíssimo, "Frases célebres", torneio de frases célebres por pessoas não tão cultas, "A quem tiver carro", desventuras com mecânicos picaretas,  e "A primeira valsa", recordação de um pai separado sobre o primeiro baile da sua filha.


Alguns textos dispensáveis:"O pior da morte", "O dia da caça", "Compositor", "De certa idade, senhor", "Bunab - tipo 7", "Um professor de português", "A vingança", "Escala em Curitiba", ..... o que mostra que o mestre tem altos (muitos)  e baixos (poucos),  e que é a prática que leva à perfeição. 


Conclusão: livro altamente recomendável.


José FRID



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