quarta-feira, 21 de março de 2012

AQUELE MENINO


Saudade de um eu
de que me dão notícia
como do irmão gêmeo
que se perdeu
ou de algo mais distante:
um primo ou conhecido
que usou um terno meu.


Me dizem
que conversaram com "ele"
ou "eu"
há quem o tenha tocado
e dele ouvido frases de amor
e pasmo.


Viram-no descendo ruas do interior
pregando nas esquinas
desejando suas vizinhas
depois escalando árvores, edifícios, pirâmides
procurando algo que se perdeu
lendo hieroglifos
na biblioteca de Babel.


Outros o viram grave e irônico opinando
ou desatento olhando para o lado
de dentro
de insolúveis questões.
Para alguns parecia apressado
como se fosse buscar o futuro
ou inaugurar o passado.


Gostaria de rever esse menino
que dizem que fui eu.
Então o acolheria
incorporando-me ao que fui
e há muito se perdeu.


Enfim lhe pediria
aceite-me de volta
não sou teu pai
sou filho teu.


Affonso Romano Santanna in "Vestígios"

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